Jornalistas&Cia 1409

Edição 1.409 página 40 experiente e exímio conhecedor da região. Na distribuição dos passageiros feita pelo piloto do bimotor me coube o assento que deveria ser ocupado pelo copiloto, se tivesse. Acomodados, acompanhei a malabaresca manipulação do painel, que praticamente findou com o acionamento dos motores, comando desconsiderado pelo da direita, ao meu lado. Taxiamos vagarosamente e o motor continuava inerte. Vi que o piloto continuava as tratativas de decolagem com a torre, não dispensando a mínima atenção ao motor parado. Quando verifiquei que finalmente entraríamos na pista principal e o motor não se manifestava alertei o piloto que sem ao menos olhar para o motor me disse: “Não se preocupe com ele. Tem estado temperamental ultimamente, mas ele vai ligar”. Baseado no entusiasmo e nas loas do funcionário do aeroporto poderia relaxar, mas, relembrando o Birigui achei melhor esquecer o desfrute de sobrevoar a área urbana da cidade para me concentrar no casmurro de quatro pás, totalmente inativo. Para quem já conhecia o interior da floreta amazônica de outras andanças, minha intenção na oportunidade era desfrutar do espetáculo proporcionado pela densa copa das árvores e os variados matizes de verde que oferece. Mas, o silêncio do motor e a passividade do piloto, coisa que os demais passageiros não haviam percebido, concentraram minha atenção nos primeiros cinco minutos cada vez mais longe do chão. Para meu gáudio e relaxamento aos poucos as pás começaram a se movimentar. Certamente, alertado pelo painel, o piloto desenhoume um leve sorriso de soslaio. Daí em diante foi sossego até a aproximação para o pouso numa pista de terra. O piloto informou que primeiro faríamos um rasante para que pudesse avaliar a consistência do piso, já que notou que a pista não era usada a uma boa temporada. Após o exame visual a baixa altura informou que as condições para a aterrisagem pareciam boas, mas caso o solo estivesse muito fofo ou pedregoso, decolar com o nosso peso talvez desse algum trabalho, principalmente se o motor da direita continuasse temperamental. Para voltar ainda bem que não foi necessário raspar a pista com enxada, nem esperar pela boa vontade do motor turrão, que pegou de primeira. Em Belém, na despedida, para descontrair, perguntei ao piloto se aquela teimosia do motor não lhe era preocupante. Professoral, disse que caso a situação se repetisse futuramente que não precisava me preocupar, pois avaliando algumas variantes não é impossível voar com um só motor, mas que a confiança num santo de devoção sempre ajuda muito. Apensado na Memória do Zanfra desta última edição, gostaria de tecer um PS. Na mesma época rememorada pelo Zanfra, eu era repórter da Agência Folhas e também cobri o movimento grevista da época, principalmente a movimentação nas indústrias localizadas na Zona Sul da capital. Realmente, era preciso muita “ginástica” para driblar e se safar da pancadaria promovida pelos capacetes azuis (não os da ONU, lógico) da Polícia Militar. Também sai ileso de todos os ataques. Lembro que era corriqueiro os PMs ou P2 (militares em trajes civis) cercarem os fotógrafos para apreender os filmes que mostravam a repressão. A estratégia era fazer três ou quatro fotos, tirar o filme da máquina e passar o rolo para o repórter esconder na meia ou repassar para o motorista da equipe que o escondia embaixo do tapete do carro. A estratégia permitiu que se salvassem muitas boas imagens. Nos anos 2000, ao término de uma aula inaugural para os alunos do curso de Jornalismo Científico da Universidade de Taubaté (Unitau) um deles me perguntou do que mais tinha saudades do tempo de reportariado. Disse que era da quantidade de tempo que passávamos fora da redação buscando notícias, fatos, histórias, checando dados, complementando informações, conversando com outros colegas ou averiguando outras coisas que poderiam ser futuras pautas. Creio que tínhamos visão, jogo de cintura e traquejo diferentes dos colegas de hoje, porque “brigávamos” pela notícia e não pela nossa imagem ou nome, não havia Google, celular, smartphone, gravador portátil, parafernália que muito auxiliou e contribuiu com os jornalistas, mas que também tirou muito do sabor do dia a dia profissional. Ubirajara, entre o técnico Dorremi (esq.) e o jornalista Jorge Duarte, ambos funcionários da Embrapa Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)

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