Jornalistas&Cia 1407

Edição 1.407 página 34 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Todos os principais compositores brasileiros cantaram e decantaram situações em que o homem e a mulher partem destemidos e prontos para gozar a vida, se me entendem. De todas as formas e maneiras. Singelas, muitas vezes, como se ouve na belezoca Festa do Casamento, que tem o Coroné Ludugero e o secretário Otrope como personagens. A licenciosidade na cultura popular é ampla. Abrange as chamadas Sete Artes, até mais. O cantor Dicró foi um gozador. Tirou sarro de tudo, enquanto pôde. O mesmo fez o grupo paulistano Mamonas Assassinas. Tirei sarro deles em texto publicado no extinto paulistano Jornal da Tarde. Deu uma polêmica danada por eu ter dito que musicalmente o grupo não faria falta ao mercado. Escrachado, o Mamonas brincava com tudo. A molecada esperta adorava. Gosto de Sabão Crá Crá. Gosto também de Vira-Vira. Começa assim: “Raios!/Fui convidado pra uma tal de suruba/Não pude ir, Maria foi no meu lugar/Depois de uma semana ela voltou pra casa/Toda arregaçada, não podia nem sentar...”. Todos os grandões e pequeninos de nossa música fizeram e continuam a fazer o que os conservadores de plantão costumam chamar de obscenidade ou pornografia explícitas. Entre esses, Chico Alves, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Nuno Roland, Nelson Gonçalves, Paulo Vanzolini (autor do escracho Amor de Trapo e Farrapo), Zé Rodrix, Antonio Barros, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Caetano, Milton Nascimento, Djavan, Tom Zé, Rolando Boldrin, Rita Lee, Roberto e Erasmo Carlos, Cazuza, Wando, Zé Ramalho, Ângela Ro Ro, Gabriel, o Pensador, Marisa Monte, Genival Lacerda. Todos. Genival Lacerda, também chamado de O Senador do Rojão, foi provavelmente o artista que mais gravou músicas de duplo sentido. Do seu repertório fazem parte, por exemplo: Severina Xique-Xique, Radinho de Pilha, Mate o Véio, Mate, Caldinho de Mocotó e A Brusqueta da Zezé, que começa assim: “Menino eu já comi calango assado/Comi carne de viado/Eu já comi jacaré/Comi rabada, feijoada, acarajé/Mas nada se compara/À brusqueta da Zezé…”. Luiz Gonzaga, o rei do baião, não ficou de fora dessa parada. Gravou coisas como Ovo de Codorna, Karolina com K e Não Vendo, Nem Troco, por exemplo. No primeiro caso, ele come ovo de codorna pra ter tesão. No segundo, dançando num forró de pé de serra, funga safadamente no cangote da Karolina, que se derrete toda. E no terceiro, o causo tem a ver com uma égua de estimação “disputada” com o filho, Gonzaguinha. A putaria implícita ou explícita na música brasileira não é de hoje. O detalhe é que a mulherada está tomando as rédeas da história. A licenciosidade na cultura popular (VI) Isso é arte? A pernambucana de Recife Flaira Ferro tem composto e cantado coisas bonitas, e instigantes. Afinadíssima. Numa de suas músicas mais recentes, ela enaltece o prazer de ser mulher, a liberdade. Enfim, faz-se presente na sociedade machista em que vivemos. Um trecho: “Não tem coisa mais bonita/Nem coisa mais poderosa/Do que uma mulher que brilha/Do que uma mulher que goza/ Toda mulher que deseja/Acende a força erótica que excita a criação/Dê suporte à mulher forte/Quem sabe a gente muda a nossa sorte…”. Em 1826, Domingos Caldas Barbosa, criador da modinha como gênero musical, escrevia para quem quisesse ouvi-lo: “Quem quiser ter seu descanso/Quem sossego quiser ter/Na densa mata do mundo/Fuja do bicho mulher...”. Aos desavisados devo lembrar que Barbosa era religioso e chegou a travar polêmica com o desabusado Bocage, a rigor, um preconceituoso. Ah! A grande Chiquinha Gonzaga, de batismo Francisca Edwiges Neves Gonzaga, também chegou a levantar a saia no minado terreno da música de safadeza ao compor Corta Jaca, que começa assim: “Neste mundo de misérias/Quem impera é quem é mais folgazão/É quem sabe cortar-jaca nos requebros/De suprema perfeição, perfeição...”. A ditadura militar que se implantou no Brasil em 1964 implantou também a censura. E muita gente boa se fodeu à época. Odair José, por exemplo, ao ousar lançar a música Pare de Tomar a Pílula. A censura militar impedia que artistas cantassem palavrões ou fizessem meras referências a sexo. E sobre o mundo gay, nem pensar! O livro Eu Não Sou Cachorro Não, de Paulo César de Araújo, é de importância fundamental para a compreensão da música que entendemos como de licenciosidade na cultura popular. Importante também para entender isso tudo que digo é o que Rodrigo Faour escreve no livro História Sexual da MPB. Os livros de Paulo César de Araújo e de Rodrigo Faour são obras de referência, especialmente no tema aqui abordado. Nessa terça-feira comemorou-se, em Portugal, o Dia do Corno. No Brasil, a data não existe, oficialmente. Deveria haver. Homenageados não faltariam... Por não ter muito lá o que fazer, fiz uma emboladazinha com o craque Jarbas Mariz para o próprio gravar. É uma espécie de homenagem ao querido conterrâneo José Nêumanne Pinto. É um trocadalho. Ouça: PINTO NOVO QUER BRIGAR OUÇA MAIS: CHIFRUDO • A BESTEIRA É A BASE DA SABEDORIA • DAKO É BOM • GIRASSÓIS DE VAN GOGH Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

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