Jornalistas&Cia 1407

Edição 1.407 página 23 Nacionais n Juliana Dal Piva, do UOL, foi absolvida da decisão que a condenava por ter tornado público o conteúdo de mensagens direcionadas a ela por Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro. As mensagens incluíam declarações descredibilizantes e ameaças por parte do advogado contra a jornalista. Em 20/4, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) manteve a condenação de Wassef de indenizar a jornalista por danos morais em R$ 10 mil, e revogou a condenação de Dal Piva a indenizar o advogado por ter divulgado prints das conversas entre eles. u Para a relatora, desembargadora Márcia Dalla Déa Barone, as mensagens de Wassef foram ofensivas e intimidadoras, e Dal Piva tinha o direito de divulgá-las para se defender: “O réu (Wassef) fez referência à ausência de liberdade de imprensa em países comunistas, dizendo que em um desses lugares, o corpo da jornalista não seria encontrado, quase que dizendo ‘que pena que aqui não é assim’”, explicou a desembargadora. “Isso vai além da crítica ao que não se gosta em uma reportagem. É uma manifestação que busca constranger a atividade jornalística e mais do que meras críticas a Juliana Dal Piva. Ela era uma das interlocutoras da mensagem e, como partícipe da conversa, tinha o direito de divulgar para se defender, especificamente em relação à sua atividade profissional. Críticas são permitidas, mas a intimidação é absolutamente inaceitável”. u As mensagens de Wassef foram enviadas em julho de 2021. Após a divulgação do podcast A Vida Secreta de Jair, sobre o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro em esquema de desvio de salários de assessores do seu gabinete quando era deputado federal, Wassef mandou mensagens para Dal Piva questionando sua ética profissional e com comentários de cunho sexual. Uma das mensagens dizia: “Por que não se muda para a grande China comunista e vai tentar exercer sua profissão por lá? Faça lá o que você faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema político que você tanto ama faria com você. Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”. u Dal Piva denunciou o ocorrido e divulgou o conteúdo das mensagens de Wassef. Em primeira instância, o advogado foi condenado por danos morais, mas a própria Dal Piva também havia sido condenada justamente por ter tornado público o conteúdo das mensagens. u Em suas redes sociais, ela comemorou a decisão: “Nós vencemos como país. A democracia venceu. Os jornalistas venceram. Obrigada por tanto apoio nas últimas semanas”. Entidades defensoras da liberdade de imprensa já haviam alertado da importância do resultado deste julgamento para o jornalismo, pois discute se uma mensagem contendo ameaças pode ser divulgada ou não. Juliana Dal Piva vence recurso e é absolvida por divulgar ameaças de Frederick Wassef Frederick Wassef e Juliana Dal Piva n Com a reportagem em quadrinhos Um povo, três massacres, a Revista Badaró venceu a categoria Reportagem em Mídia Independente da segunda edição do Prêmio Megafone de Ativismo. A iniciativa busca destacar produções relacionadas aos direitos humanos e defesa do meio ambiente no Brasil, e é uma iniciativa de diversas organizações ligadas a causas humanitárias e ambientais, entre elas Greenpeace, WWF Brasil e Sumaúma. Confira os demais vencedores na página do concurso. n Morreu em São Paulo em 21/4 Celso Horta, aos 74 anos, vítima de um infarto. Estava sendo submetido a uma cirurgia de próstata e teve problemas cardíacos. Não resisitiu. u Nascido em Guaratinguetá, interior de São Paulo, Horta teve grande atuação na militância contra a ditadura militar. Em 1968, fez vestibular para Direito e iniciou sua trajetória na militância política junto à Ação Libertadora Nacional (ALN), como membro de um Grupo Tático Armado (GTA) da organização. u Foi preso em 1969 e solto somente em 1977. Após a soltura, iniciou a trajetória no jornalismo e formou-se na área pela ECA-USP, em 1982. u Atuou na imprensa comercial até 1991. Depois, trabalhou no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde foi coordenador da Tribuna Metalúrgica, jornal diário da categoria. Anos mais tarde, em 2005, passou a diretor do jornal ABCD Maior, idealizado por ele e sindicatos da CUT na região. Enquanto trabalhava com jornalismo, Horta teve atuação também no processo de consolidação do Partido dos Trabalhadores (PT). u Desde 2012, dedicava-se à carreira de escritor e pesquisador. Publicou recentemente o livro A repressão militar-policial no Brasil – O livro chamado João. u Entidades e colegas lamentaram a morte de Horta. Luís Nassif, que trabalhou com ele no Jornal da Tarde, destacou seu legado e importância para o jornalismo, lembrando o trabalho de Horta na reportagem sobre a distribuidora de valores Tieppo, que “movimentou a disputa jornalística nos anos 80”. Graças ao trabalho atencioso de Horta, foi possível produzir uma reportagem de página inteira desmontando a farsa dos arquivos da corretora. (Leia+) O adeus a Celso Horta Celso Horta

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