Edição 1.406 página 14 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Não é de hoje, sei: a nossa música popular está completamente a-fu-nhe-nha-da! Musicalmente, o Brasil começou a ganhar forma com Chiquinha Gonzaga e Joaquim Antônio da Silva Callado. O ponto de intersecção entre os dois foi o bom gosto. Callado foi o cara que deu os ingredientes necessários para a formação do choro, a que Pixinguinha daria os pontos finais na virada do século 19. Chiquinha, que compôs centenas e centenas de músicas, foi quem criou o gênero musical marcha ou marchinha. É dela Ó Abre Alas, de 1899: “Ó abre alas!/ Que eu quero passar (bis)/Eu sou da lira/Não posso negar...”. O chorinho nasceu praticamente junto com o maxixe. O maxixe era um tipo de dança considerado obsceno, lascivo. Hoje a nossa música popular anda de pernas bambas, de gozo ou sofrência. Eu não ouso perguntar, porque é quase certo que muita gente sabe o que é funk. MC Pipokinha é muito doida. Muito doida também é MC Carol. Andei ouvindo uma certa Valesca Popozuda. Ai, ai, ai... E o que dizer da doida varrida Tati Quebra Barraco? Pipokinha se autodenomina “Princesa da Putaria”. Seguindo a lógica de Pipokinha, Quebra Barraco opta por se considerar a “Mamãe da Putaria”. Velhos tempos, novos tempos. Entre 1902 e 1903 Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, gravava para a Casa Edison a cançoneta A Boceta da Vovó. Deve ter feito sucesso à época, pois em 1904 Mário Pinheiro gravava para a mesma casa a cançoneta Boceta de Rapé. Pois, pois... Mero duplo sentido que se ouvia da boca do Bahiano e do Mário. Muita água lavou corpos após encontros proibidos, claro fica nos sambas e noutros gêneros musicais tão comuns desde sempre na discografia brasileira. Na nossa música popular há registro de situações de infidelidade conjugal. Muitas. Os personagens apresentados nos sambas e que tais eram sempre machões metidos a besta, que deixavam a mulher em casa e partiam para aventuras sexuais nos prostíbulos. São muitos os títulos de músicas que Licenciosidade na cultura popular (V) trazem a palavra orgia. Alguns: Orgia e Nada Mais, com Aracy de Almeida; Vou pra Orgia, com Nuno Roland; Orgia, com Orlando Silva. Pois é, a mulher sempre esteve num degrau abaixo da vida social masculina. Machista. E dê-se a isso o nome ou classificação que se queira dar. Portanto, não é difícil entender o berro quase desesperado que a mulherada do funk, principalmente, e de outros ritmos está dando por aí. Tudo isso é compreensível. Mas é arte o que se está fazendo? Desde sempre homens matam mulheres por ciúmes. O cantor Lindomar Castilho, pela imprensa chamado de “Gatilho”, matou a tiros, em 1981, uma mulher a quem dizia amar, Eliane de Grammont. Em 1977, o cantor Sidney Magal alardeava aos quatro cantos a sua posição de machista radical cantando: “Se te agarro com outro te mato/Te mando algumas flores e depois escapo...”. Em junho de 1981 publiquei na extinta revista Privé entrevista que fiz com o compositor e cantor Valdik Soriano, assumidamente “macho”, como Nelson Gonçalves. Soriano contou na conversa que tivemos a respeito de suas origens até a chegar à condição de estrela da “música brega”. De cara, disse, já no título: “Eu como todo mundo!”. Na íntegra, leia a entrevista que fiz com ele. Aqui, quero deixar registrada uma coisa pessoal: um dia, numa mesa de bar, eu disse que não era certo o homem deixar a mulher em casa e ir pra gandaia. Ela poderia fazer o mesmo, por que não? Quase levei porrada. Chamaram-me de demagogo. Não à toa há mulheres que rompem a tradição machista. E não à toa há homens que brincam com isso. O cearense cantor e compositor Falcão fez e gravou a pérola Todo Castigo pra Corno é Pouco. Em 1994, um cara chamado Alves Correia lançou o LP joia Chifrudo. A música título começa assim: “Toda vez que o namorado sai/Ela vai ficar com outro rapaz...”. O LP de Correia, cujas músicas são todas dele, termina com a inimaginável Oração de São Cornélio. Curiosidade: o referido Correia é considerado o radialista mais famoso do Agreste alagoano. Foi deputado por Alagoas, em 2002. Questões políticas o levaram a cair numa emboscada em 1993, ocasião em que foi atingido por nove tiros de arma de fogo. Reproduções por Flor Maria e Anna da Hora
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