Jornalistas&Cia 1404

Edição 1.404 página 8 DIA DO JORNALISTA Centenário de Claudio Abramo o jornalista que modernizara o Estadão, cujo passado trotskista e simpatia pelo então Partido Socialista conhecia. De um jornal anódino a muito influente A Folha de S.Paulo − na época em ascensão no mercado paulista, com um esquema de distribuição rápido para o interior do Estado, a partir de sua sede na Alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo − era politicamente anódina, sem editoriais, sem artigos opinativos e críticos ao momento politicamente fechado que o País vivia. Claudio Abramo, finalmente introduzido na redação, primeiro como chefe de Produção e depois como diretor de Redação, começou a modernizá-la, contratando gente nova, como o já citado Alexandre Gambirasio, entre outros, que viriam a se destacar na profissão com o correr do tempo. Um deles foi Roberto Müller Filho, futuro editorchefe de a Gazeta Mercantil, jornal que, por ele liderado (hoje já fora de circulação por causas variadas), criou uma nova e competente cobertura da economia brasileira, inspirada em modelos como o inglês Financial Times. O ribeirão-pretano Müller, formado em Química Industrial, trabalhava na Companha Siderúrgica Paulista, Cosipa, em Cubatão, no litoral de São Paulo. Foi preso, acusado de subversão depois do golpe de 1964, ficando detido no navio Raul Soares, em Santos, onde os esquerdistas da região eram recolhidos. Nas suas andanças pós-soltura, foi contratado como repórter na Folha de S.Paulo. Incluído em uma lista de demissões, foi preservado no emprego quando Abramo tomou conhecimento de sua história. Foi um gesto revelador de um estilo de liderança. Estabeleceu-se ali um relacionamento inabalável. “Devo a ele tudo o que aprendi na profissão”, disse-me Müller em entrevista sobre Abramo. O encontro de Nova York Fundamental foi a participação de Abramo no processo de transformar a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais influentes do País, a partir da metade dos anos 1970, na esteira do projeto de abertura “lenta, gradual e segura” do regime político brasileiro patrocinado pelo governo do general-presidente Ernesto Geisel. Artigo no UOL do cientista social Carlos Melo, atualmente professor do Insper, traz à tona uma conversa dele com Otávio Frias, filho de Frias: o general Golbery do Couto e Silva, que viria a ser chefe de Gabinete Civil do futuro presidente Ernesto Geisel, conversara, no Rio de Janeiro, com seu pai, sobre os planos de abertura política que estavam no horizonte do futuro governo. E nessa conversa sugerira que seria interessante, para robustecer a abertura política, que a Folha ganhasse importância em São Paulo, dominado jornalisticamente pela tradição de O Estado de S. Paulo. Vale observar que Mino Carta, então diretor de Redação da revista Veja, teve conversa semelhante com o general Golbery, a qual deve ter-se estendido a outros comandantes de jornais brasileiros. O impulso mudancista no comando da Folha foi chancelado no conhecido “encontro de Nova York”, no qual Claudio Abramo, Frias e seu filho Otavinho debateram como implementar o processo de transformação da Folha em um jornal com peso político, tendo em vista a abertura do regime. Nasceu, então, o design das páginas 2 e 3 do jornal, desenvolvido por Abramo, com artigos de jornalistas de Brasília, Rio de Janeiro e, claro, São Paulo, um editorial e artigos de personalidades da sociedade civil. A Roberto Muller Filho Octavio Frias Filho com o filho Otavinho, em 2006

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