Jornalistas&Cia 1404

Edição 1.404 página 6 DIA DO JORNALISTA Centenário de Claudio Abramo Hora... A rádio do grupo, a Eldorado, também ganhava importância. Os ventos políticos, com a radicalização da direita contra o governo João Goulart, gerou um clima de desgaste entre Abramo e a família Mesquita, pois Júlio era um dos principais conspiradores em torno do que viria a ser o golpe de 1964. Abramo e Fúlvio, seu irmão que dirigia a Eldorado, este também por dirigir uma greve de jornalistas em 1961, acabaram afastados do Estadão. Foi uma época em que se concentrava exclusivamente no trabalho, lembra ele em seus relatos no livro A Regra do Jogo. ”Tinha um magnetismo muito forte”, lembra o jornalista Alexandre Gambirasio, que trabalhou com ele no Estadão e o acompanhou mais tarde na Folha de S.Paulo. “Certa vez, no Estadão, voltando de uma reportagem especial, foi cercado pelos colegas no meio da redação, ávidos por um relato, até ser interrompido por um incomodado Ruy Mesquita, um dos filhos de Júlio Mesquita, conclamando todos a voltarem a trabalhar”. Para Gambirasio, Claudio Abramo era brilhante, espirituoso e os donos do jornal tinham ciúmes. Assessoria ao conservador Carvalho Pinto Não faltaram convites para ele dedicar-se a algum outro veículo quando saiu do Estadão. Eram tempos politicamente acirrados. O Brasil era governado pelo petebista João Goulart, herdeiro de Getulio Vargas. Como a história registra, Jango, então vice-presidente do Brasil, enfrentou forte resistência dos militares ao suceder o udenista Jânio Quadros, que renunciou acusando “forças ocultas” de serem contra suas erráticas políticas. Naquela época, presidente e vice-presidente da República podiam ser eleitos por partidos diferentes. Abramo foi convidado por Samuel Wainer, criador do já citado Última Hora nos anos 1950, sob impulso de Getulio Vargas, a dirigir os jornais do grupo, mas não chegou a um acordo. Trabalhou no jornal A Nação, que fazia parte de um grupo de publicações de pequena repercussão, criado pelo empresário Mário Wallace Simonsen, dono da empresa aérea Panair do Brasil e da TV Excelsior, simpático ao governo Goulart, que acabou se tornando inviável. Nesse cenário politicamente tumultuado, o conservador ex-governador de São Paulo, Carvalho Pinto, foi convidado por João Goulart a ser seu Ministro da Fazenda, uma tentativa de aplacar as críticas da direita à sua administração, e carregou Claudio Abramo como assessor – mas a permanência dos dois no governo durou pouco. Abramo ainda desenvolveu conversas com Goulart e sua equipe, em especial Darcy Ribeiro, que queriam levá-lo novamente para Brasília. Mas deu-se, então, o golpe de 1964... Um ano depois, o empresário Octavio Frias de Oliveira, que tocava a Folha de S.Paulo desde que a adquirira em 1962, chamou-o para uma segunda conversa − a primeira fora em vão − e o contratou para analisar as edições do jornal − de longe, baseado na empresa de Frias, a Transaco. Dinâmico, operando em inúmeros ramos, Frias chamava para empurrar seu jornal a ganhar relevância no mercado Alexandre Gambirasio Folhapress

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