Jornalistas&Cia 1404

Edição 1.404 página 46 toras muitas vezes ajudavam as agências na alteração dos textos para caberem dentro do tempo do spot e do jingle. Diferente da atualidade, em que um texto de 45 segundos é editado para caber em um comercial de 30 segundos. Como? Retirando as respirações e alterando a velocidade sem mexer no timbre. Ou seja, a locução fica mecanizada, parecendo a voz do computador. Para Fabio Dias este é um exemplo do uso equivocado da tecnologia, pois temos condições de fazer muito melhor e com mais qualidade os comerciais e pecamos buscando soluções mais simples e rápidas. Vale ouvir estas campanhas publicitárias feitas para rádio. No decorrer dos anos muitos processos foram alterados, dentro e fora das rádios e das agências, para buscar se adequarem às reduções de custos. Enquanto nos anos 1970 uma produtora conseguia gravar um jingle ou um spot com músicos profissionais, locutores renomados e atores da TV, nas décadas seguintes a redução dos investimentos e as facilidades técnicas levaram a um “arrocho” nas verbas. Entre as ações realizadas, muitas emissoras de rádio passaram a fazer os spots dentro de casa para reduzir os custos de produção e fazer um agrado para a agências. Assim, passaram a gravar os comerciais com os locutores da rádio e trilhas brancas compradas de grandes estúdios norte-americanos. Outra opção foi criada com a democratização da tecnologia digital, na qual profissionais, interessados e curiosos vendem serviços pela web com baixos custos. Enfim, tudo isso levou a uma redução dos investimentos em publicidade em áudio e por consequência à redução da participação de profissionais renomados nos processos de criação, produção, gravação e edição. Para o pesquisador, uma das perdas mais sentidas é no texto, pois os spots atuais trazem diálogos inverossímeis, em situações falsas, que tentam imitar a realidade cheia de clichês: “Então, uma pessoa que não tem afinidade com o meio vai fazer um texto de 30 segundos para um spot, mas não tem envolvimento; aquilo vira quase que uma paisagem sonora. Você está dirigindo o carro, está ouvindo um spot atrás do outro e nenhum se fixa na cabeça. Você não lembra de nenhuma mensagem e tem aqueles clichês que a gente cansa de ouvir”. Não podemos deixar de comentar a importante participação dos locutores nesse processo de criação desenvolvimento dos spots e jingles. Muitas vezes é a locução bem-feita que dá a vida necessária ao texto, para que se transforme em uma mensagem que fique na memória dos ouvintes. Para Fabio Dias, uma boa locução, bem dirigida, é o ponto que marca o momento do envolvimento do cliente Mesa de som com a peça publicitária: “Você dá um destaque a uma das palavras na mesma frase. Muda completamente o sentido a ser obtido por ela. Outra coisa é a colocação da voz. Imagina só, um amigo está sugerindo a você que utilize determinado produto. Ele vai falar isso num tom quase de confidência, num tom de segredo. ‘Olha, Álvaro, esse sabão em pó aqui faz menos espuma, mas limpa muito bem’. Não vai fazer uma voz empostada e afirmar que aquele sabão X é o melhor do mercado”. Para encerrar, Fábio lembra que o processo de segmentação e humanização da publicidade já existia no rádio nos anos 1990, e que a estratégia da busca da persona para falar com o cliente o rádio já usava há anos. O comunicador de rádio, o apresentador, o locutor dos noticiários fala para audiências muito próximas, que o entendem como amigo dentro do seu cotidiano. Assim, não se justifica a não utilização das mesmas técnicas e formatos nas emissoras de rádio e nas redes sociais, pois a eficiência já foi comprovada. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. n Em comemoração ao Dia do Jornalista, celebrado nesta sexta-feira (7/4), o Portal Japão e o Consulado-Geral do Brasil em Hamamatsu homenagearam no último sábado (1º/4) os correspondentes brasileiros Márcio Gomes (CNN), Carlos Gil (Globo), Cintia Godoy e André Tal (Record), Fernando Jordão (SBT) e Alberto Gaspar (TV Cultura). Internacional

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