Jornalistas&Cia 1404

Edição 1.404 página 45 PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO disse. Resumindo: Juca marcou encontro, no Rio, com um cara chamado Eduardo Barbosa (1914-2006). Desenhista dos bons, dos antigos, que dizia ser o Zéfiro e queria pela entrevista 25 mil dólares. A essa altura, Juca Kfouri já havia mantido contato pessoal com o primeiro editor de Zéfiro, Hélio Brandão, dono de um sebo na capital fluminense. Também a essa altura Juca já havia chegado ao nome de Caminha e até tentara convencê-lo a dar a tão pretendida entrevista à Playboy. Negativo, no primeiro momento. Depois, no segundo momento, Juca apostou alto. E disse a Caminha na sua casa no bairro carioca de Anchieta: “Eu vou publicar entrevista com o Barbosa. É ele o Zéfiro”. Caminha não gostou do que ouviu. E terminou por contar a sua história, mas gostaria de ler o texto antes de publicado. Pedido feito, pedido atendido. “Voltei à casa do Caminha com a matéria pronta. Reunida numa mesa grande, Caminha, sua mulher e a família toda me aguardavam. Comecei a ler o texto. Lá pelas tantas, ouvi um fungado ou algo parecido. Depois, mais um e mais outro. Eram ele e a mulher chorando, emocionados”. Todos eram a favor de que Alcides Caminha revelasse o fato de que Zéfiro era ele mesmo, mas resistia. Juca: “Foi uma das melhores matérias que já escrevi na minha vida. Orgulho-me disso”. A matéria de Juca Kfouri é do caralho! Essa matéria, cuja cópia Juca me mandou, virou peça de colecionador. Compartilho com vocês: https://drive.google.com/file/d/12DUEnjAPfFn9VqPzt1wQ7zqWY8N78cja/view?usp=sharing. Caminha morreu oito meses após a publicação da entrevista. Alcides Caminha foi também um compositor musical bastante inspirado. É dele, por exemplo, em parceria com Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito, o samba A Flor e o Espinho. Foto e reproduções por Flor Maria Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Em tempos de ChatGPT assustando os usuários com soluções rápidas que “parecem” perfeitas, retomamos a conversa com o publicitário e professor Fábio Dias, especialista em jigles e spots de rádio. Um ponto de referência é a qualidade das produções publicitárias dos anos 1970, 80 e 90, que trouxe vários prêmios internacionais, em comparação com a atual produção pasteurizada, feita muitas vezes para a TV e reutilizada nas rádios. Sim, muitas campanhas usam no rádio o áudio do comercial de TV... O pesquisador se recorda que as produtoras trabalhavam em esquema acelerado para conseguir dar conta de entregar as campanhas em áudio a tempo de serem levadas para as emissoras. Para isso, muitos spots eram gravados “de primeira”, ou seja, era feito um ensaio rápido pelo locutor com a participação dos operadores. Na sequência, a técnica soltava a gravação, dava o play na trilha e sinalizava ao locutor. De repente: pronto! Gravação realizada com perfeição! Vamos para o próximo... Atualmente temos tecnologia de sobra para gravar e editar locuções e trilhas de forma rápida, porém acabamos perdendo a criatividade em produções em série e sem vida. “Muitas vezes o contato da agência ou o RTV iam acompanhar a gravação e por insegurança ou desconhecimento pediam para o locutor gravar várias vezes, mas o que valia era a primeira feita com um ensaio rápido”, lembra o professor. É importante ressaltar que as dificuldades técnicas levavam os operadores, músicos, locutores e cantores a improvisar soluções completamente caseiras para resolver questões da falta de um equipamento, de não ter um microfone melhor ou de não haver tecnologias prontas para ajudar naquele momento: “Até pelas dificuldades técnicas da época, de equipamentos rudimentares e de ter que gravar e editar em fita, criou-se uma série de técnicas que não eram tecnológicas, eram criações dos operadores, dos músicos, dos cantores, como formas de driblar os problemas. Pela técnica do operador, do músico, do cantor, se sobrepunha a essas questões tecnológicas. Hoje, infelizmente, tenho a sensação de que, ao contrário, a questão tecnológica se sobrepõe à criação”. Ouça bons exemplos de spots de rádio no link. O pesquisador traz outra curiosidade: “Quando lançaram o chocolate Lollo aqui no Brasil, em 1982, num dos filmes tinha que fazer o efeito das barrinhas pulando num balde de chocolate. Só que eles não tinham aquele som específico, embora já existissem LPs de efeitos sonoros. Eles fizeram enchendo um balde com óleo de caminhão e jogando porcas e parafusos grandes ali para parecer o Lollo pulando no chocolate. Só que tinham que tomar cuidado, pois que o microfone tinha que ficar próximo o suficiente para captar, mas longe para não molhar com óleo”. Com as dificuldades da falta de tecnologia, os estúdios e produMuita tecnologia e pouca criatividade Fábio Dias

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