Jornalistas&Cia 1404

Edição 1.404 página 30 DIA DO JORNALISTA Centenário de Claudio Abramo Lourenço Diaféria em 1978 A coluna em branco na página do jornal (à direita) manter contas no exterior, era ilegal e um delito gravíssimo na época; alguns anos antes, um caso semelhante provocara a ocupação da fábrica de café Dominium pelo Segundo Exército, como se fosse um ato de guerra). Abramo ofereceu a saída ao dono do jornal: ele e sua turma seriam demitidos, Boris Casoy, um jornalista com trânsito entre os militares, assumiria o comando. Frias aceitou, mas foi ainda mais longe: afastou-se formalmente do comando da Folha. E Boris assumiu o cargo de editor responsável, talvez menos prestigioso do que o de Abramo mas efetivamente com mais responsabilidades.] Um ano depois, Claudio voltou ao jornal, sob a gestão de Boris, mas logo voltou a sair para participar da fundação do Jornal da República, que o criador Mino Carta classificou depois de “um fracasso retumbante”. O jornal durou pouco, Claudio ficou sem emprego. Frias ofereceu a ele uma “embaixada no exterior”: o cargo de correspondente em Londres. Ainda diretor do jornal, Claudio tinha pilotado a montagem de um time impressionante de correspondentes: Paulo Francis em Nova York, Osvaldo Peralva em Tóquio, Gerardo Melo Mourão em Pequim, J.B. Natali em Paris, Pedro del Picchia em Roma, e outros tantos. O objetivo, Otavio explicava, anos depois, era atacar o Estadão em sua praia: o jornal dos Mesquita sempre trabalhou a Internacional como a editoria mais importante do jornal, mas vivia uma crise econômica e não conseguiria reagir ao movimento da Folha. Mas havia algo estranho no tabuleiro de War: a Folha não tinha indicado um nomão em Londres, sua cidade preferida no planeta (e a de Otavio Frias Filho, seu epígono). Alguém disse tempos depois que ele tinha “reservado” a vaga para si, para a eventualidade de ser deposto do comando da Folha, como aconteceu em 1977. Entre 1980 e 1984, Claudio apenas escreveu, muito e bem. Cobria o mundo, nem tanto as cidades onde morava. Mas sua fama de editor era tão poderosa que poucos observadores destacam os textos desse período como correspondente internacional. De novo: seus textos (agora assinados) não eram peças literárias, eram textos jornalísticos bem escritos, claros. O que é uma bênção. Naquele 1984 ele voltou ao jornal sonhando com o comando da Folha. E como tal se vestiu para a primeira visita à Redação: um cetro e um manto de urso, que o faziam parecer um rei Artur voltando à Távola Redonda...

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