Edição 1.404 página 28 DIA DO JORNALISTA Centenário de Claudio Abramo significativo para um profissional que atingiu o Olimpo profissional, sempre, como editor. A trajetória de sucesso de Abramo era reconhecida por gerações de jornalistas desde o início dos anos 1950. E a admiração, com pinta de herói, se intensificara no final dos anos 1970. Não imagino alguém que sonhasse com a profissão naqueles tempos (entre os mais duros anos de chumbo e o início do fim da ditadura) que não tivesse uma admiração profunda por aquele sujeito plural, que era protagonista em histórias sobre jornalismo, política, literatura, artes plásticas e tudo quanto fosse cultura daquela época. Abramo era um renascentista, dominava várias artes além da escrita, nasceu em uma família culta e dura, por isso não teve escola formal, o que sabia aprendeu em casa. Mas realmente se destacou no jornalismo, onde misturava as mais importantes competências jornalísticas. Entre seus talentos famosos contam a capacidade de liderar equipes, descobrir e formar talentos, conduzir grandes coberturas. Conta a história que ele planejou a cobertura da inauguração de Brasília levando em conta até o tempo que o laboratorista teria para receber uma foto e levá-la ao editor da Primeira Página... Claudio tinha a idade aproximada dos filhos de Júlio de Mesquita Filho, o dono e pontífice do Estadão, e partilhou com eles, Júlio Neto, Ruy e Carlos, a trajetória do início da carreira. Foi por indicação deles, provavelmente, que o “Doutor Julinho” o chamou para comandar a Redação quando tinha 27 anos, com o cargo de secretário-geral, correspondente ao de editor-chefe. Orgulhava-se de ter sido o mais jovem a ocupar a função. Sob o comando dele, o jornal, que era uma potência em anúncios e em influência política, ganhou qualidade e inteligência na gestão dos recursos e nos fluxos de fechamento, clareza na diagramação das páginas. Mesquita Filho tinha uma idiossincrasia: a capa do Estadão era sempre dedicada à política internacional. Por isso, Abramo transformou a última página em uma “capa” nacional. E ela se tornou uma referência política. No início dos anos 1960, em que o Brasil vivia uma polarização política semelhante à atual, Abramo decidiu sair do Estadão, quando o jornal dos Mesquita começava a se aproximar da articulação de um golpe militar. Pouco tempo depois, foi contatado por Octavio Frias de Oliveira, que tinha comprado a Folha de S.Paulo, um jornal sem prestígio e provinciano, de baixa circulação. Frias era um negociante, tinha uma pioneira corretora de ações e, com o sócio Carlos Caldeira, era dono da estação rodoviária de São Paulo. Os dois compraram a Folha na bacia das almas, como se fala, sem entender de jornal. Por isso, Frias contratou Abramo como uma espécie de consultor, que ficava em seu escritório particular, onde logo cedo fazia uma avaliação da edição da Folha, que Frias usaria para discutir o produto com o diretor de Redação José Reis, que se tornaria depois uma referência em jornalismo científico. Abramo tinha todas as qualidades conhecidas e um temperamento infernal, incluindo momentos de fúria. Frias preferiu conhecê-lo melhor antes de soltar a fera na Redação. Durante cerca de dois anos, Frias foi aproximando Abramo do jornal, onde logo passaria a ser chefe de Reportagem e secretário de Redação, uma função estratégica, por quem passavam todos os textos do jornal. Assim, em meados dos anos 1960, durante a ditadura, Abramo iniciou sua segunda revolução jornalística, agora plantando as raízes do processo que tornaria a Folha o maior jornal do Estado, nos anos 1970, e o maior do País nos anos 1980 (quando ele já estava fora do comando). Em 1969, o então embaixador dos EUA, Charles Elbrick (esq.), Carlos Caldeira e Claudio Abramo
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