Jornalistas&Cia 1404

Edição 1.404 página 25 DIA DO JORNALISTA Centenário de Claudio Abramo “Dorminhoco e surdo” Eduardo Ribeiro, diretor deste Jornalistas&Cia Claudio Abramo sempre foi apontado como um jornalista cinco estrelas, mas muito severo. Eu o conheci de forma circunstancial, num evento que organizei no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em que ele era um dos convidados. Mas dele cheguei a ouvir várias histórias, uma delas contada pelo impagável José Aparecido, que trabalhou por anos no Grupo Folha, além de ter tido uma atuação importante no próprio Sindicato, cuidando da Diretoria de Interior, um ambiente em que reinava como ninguém. Vamos, pois, primeiro à minha história pessoal com ele. Imprensa e Poder O ano era 1984 ou 1985. Integrante da diretoria do Sindicato dos Jornalistas eleita em 1983, liderada por Gabriel Romeiro, eu coordenava a Comissão de Assessores de Imprensa. Na Comissão, começamos a organizar alguns eventos, entre eles o debate Imprensa e Poder, que tinha como objetivo discutir o trabalho dos jornalistas na cobertura do governo, à época ainda sob a ditadura militar, mas já respirando clima das Diretas Já. Um dos convidados para o debate era exatamente Claudio Abramo, pela experiência e respeito que tinha no jornalismo, em especial na cobertura do poder público, dos políticos. Chegou o dia e, como esperávamos, o auditório Vladimir Herzog estava lotado. Só que o horário foi se aproximando e nada de Abramo. Deu o horário, e nada. Passaram-se 10 minutos, e nada. Bateu o desespero. Consegui o telefone da casa dele, liguei e quem atendeu foi sua esposa, Rhada. Quando perguntei por ele e disse do evento, ela deve ter gelado: “Eduardo, mas ele já está dormindo!!!”. E eu: “Meu Deus, e o que faço agora com as 150 pessoas que estão aqui, para assistir ao debate?”. Ela: “Pois então eu vou acordá-lo, agora. Em 20 minutos ele estará aí, pode contar”. E assim, salvamos o evento e o debate ocorreu, Fale alto porque ele é surdo! Essa eu ouvi diretamente dos lábios do saudoso José Aparecido, que era figura frequente em nosso Sindicato. Emendava as histórias, uma mais engraçada do que a outra. Disse em nossa roda: “Trabalhávamos na Folha e eu ficava logo na mesa da frente, na entrada da redação. Vez por outra aparecia algum leitor para reclamar de algo, fazer alguma sugestão. Era uma segunda-feira, um dos dias em que elas, as reclamações, mais aconteciam. Entra um senhor meio fulo da vida por causa alguma matéria que o jornal tinha publicado e queria falar com o responsável. Determinado, disse que não sairia de lá enquanto não falasse com essa pessoa. Meio sem alternativa, pensei comigo: ele vai ver o que é bom pra tosse. ‘Prezado, o responsável é aquele senhor que senta naquela última mesa. Pode ir até lá e fazer a sua reclamação’. Quando ele começou a andar, eu o interrompi: ‘Por favor, o senhor fale alto, bem alto, porque ele é meio surdo’. Disse isso, e imediatamente peguei minhas coisas e bati em retirada. Fui diretamente para o bar, que era uma espécie de concentração da redação. Não vi, claro, o que aconteceu. Mas soube pelos colegas que o Claudio pôs o homem pra fora aos gritos e que queria comer o meu fígado, pela travessura. Como veem, sobrevivi!!” usiminas.com 7 DE ABRIL, DIA DO JORNALISTA. COMPROMISSO COM A INFORMAÇÃO.

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==