Edição 1.404 página 23 DIA DO JORNALISTA Centenário de Claudio Abramo Abramo esperava que nós, jornalistas, tivéssemos opinião política, sem se esconder atrás do biombo de uma suposta objetividade. Deveríamos ser céticos e não ingênuos. Mas sem ilusões: “O jornalismo é um meio de ganhar a vida, um trabalho como outro qualquer, é uma maneira de viver, não é nenhuma cruzada. E por isso você faz um acordo consigo mesmo: o jornal não é seu, é do dono. Está subentendido que vai trabalhar de acordo com a norma determinada pelo dono do jornal, de acordo com as ideias do dono do jornal. É como um médico que atende um paciente. Esse médico pode ser fascista e o paciente comunista, mas ele deve atender do mesmo jeito. E vice-versa. Assim, o totalitário fascista não pode propor no jornal o fim da democracia nem entrevistar alguém e pedir: ‘O senhor não quer dizer uma palavrinha contra a democracia?’; da mesma forma que o revolucionário de esquerda não pode propor o fim da propriedade privada dos meios de produção. Para trabalhar em jornal é preciso fazer um armistício consigo próprio”. Um gênio e um gentleman, mas... Pedro Cafardo, jornalista Claudio era um gênio e um gentleman, mas ficava muito nervoso com coisas malfeitas e desleixo na redação. Os jovens repórteres, como eu, e até os editores tremiam de medo quando ele os chamava para conversas. A velha da Folha de S.Paulo, nos anos 1970, tinha um mesão da direção onde o comando da redação acompanhava o fechamento da edição. Claudio era o grande chefe e tinha uma sala própria ao lado da redação. Mas frequentemente ficava no mesão para facilitar o contato com editores e repórteres. Um belo dia, irritou-se com algo errado feito por um contínuo da redação. Aos berros, pegou a máquina de escrever e a atirou na direção do contínuo. Não, não acertou o alvo, mas a redação parou com o estrondo. Logo pediu desculpas, ajeitado os longos cabelos brancos que caiam sobre a face. Ninguém soube o que o contínuo havia feito ou deixado de fazer.
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