Jornalistas&Cia 1404

Edição 1.404 página 10 DIA DO JORNALISTA Centenário de Claudio Abramo imersão da persona de Abramo na sociedade civil brasileira, então em ebulição, certamente alimentou a importância e a repercussão desse espaço. Jornalistas renomados foram atraídos por ele ao jornal, como o polêmico Paulo Francis, que escrevia dos EUA, e Alberto Dines, que fora defenestrado pelo Jornal do Brasil no começo dos anos 1970. A abertura política caminhava, mas... Um sargento do Exército foi morto por uma ariranha ao tentar salvar uma criança que caíra em seu poço no Zoológico da Brasília. O cronista Lourenço Diaféria escreveu uma coluna (Herói. Morto. Nós.) em homenagem a ele na Folha em que dizia, entre outras coisas: “Prefiro esse sargento herói ao Duque de Caxias (...), um homem a cavalo reduzido a uma estátua. (...) O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal”. A estátua do Duque de Caxias fica na praça Princesa Isabel, no centro da São Paulo, perto da Folha de S.Paulo. De Brasília, o chefe de gabinete do presidente Geisel, reclamou, por inspiração do general Silvio Frota, comandante do I Exército, candidato à sucessão presidencial. Diaféria, que não tinha nenhuma militância política, foi preso por uns dias. O jornal publicou sua coluna em branco, o que também desagradou o governo. “Lembro do Frias e do Claudio descendo à redação, lívidos, para acompanhar o que acontecia”, recorda Gambirasio. Ao fim e ao cabo, Abramo, que se posicionara contra a publicação da coluna em branco, acabou afastado do comando da redação. De Londres e de Paris Uma temporada como correspondente na Europa, a convite de Frias, primeiro em Londres e depois em Paris, estadia da qual relembraria depois com certo fastio, afastou-o do País temporariamente. Várias das matérias que escreveu nessa época, sempre em tom crítico, estão publicadas no livro A Regra do Jogo. Abrigou-se, quando voltou, como articulista na revista Senhor e, posteriormente, na semanal IstoÉ, dirigidas pelo amigo e também brilhante jornalista Mino Carta. Abramo abrira-lhe espaço na Folha de S.Paulo em 1976, como repórter especial, depois do seu afastamento da direção de Redação da então poderosa Veja, por pressão do então ministro da Justiça, Armando Falcão, no governo Geisel. Foram gestos de apoio que refletiam a sólida amizade e admiração profissional que se desenvolveu entre os dois desde que Mino Carta visitava seu pai, Giani Carta, editor de Internacional de O Estado de S.Paulo, na época em que Abramo dirigia o jornal. A dupla voltou a trabalhar junta no Jornal da República, lançado por Mino Carta em 1980, no qual Abramo escreveria uma coluna sobre política nacional na primeira página. Lembro-me (eu trabalhava na IstoÉ, cuja redação ficava um andar abaixo, sendo as duas interligadas por uma escada) que certo dia Abramo escreveu uma coluna crítica contra o então presidente José Sarney e declarou que passaria a escrever só sobre temas internacionais, o que provavelmente enfraqueceria a repercussão do espaço. Embarque para Paris – 1971 Reprodução Claudio e Mino Carta, na redação do Jornal da República

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