Jornalistas&Cia 1403

Edição 1.403 página 6 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. À primeira vista, os números de representação de gênero na mídia não animam. No ritmo atual, faltam mais de 60 anos para atingirmos equidade na cobertura, com espaços iguais para homens e mulheres, segundo o último levantamento do Global Media Monitoring Project. Dados como esses estão na nova edição especial do MediaTalks, que começa a circular nesta quinta-feira (30/3), fechando o mês do Dia Internacional da Mulher. Trata-se de um mergulho profundo na desigualdade de gênero na mídia, suas causas e suas consequências. Mas o mais importante de tudo é o levantamento de diversas iniciativas que estão sendo implantadas para mudar o cenário, que não é exclusivo do Brasil ou de alguns países. Correspondentes mulheres mostram casos e estatísticas impressionantes de países tão diversos como Argentina (Márcia Carmo), Austrália (Liz Lacerda), Estados Unidos (Eloá Orazem), Suécia (Cláudia Wallin), Alemanha (Marina Azaredo) − e eu no Reino Unido. Mas também falamos das ações bem-sucedidas já implantadas por alguns veículos, como o uso da contabilidade de gênero para contar a quantidade de homens e mulheres ouvidos e premiar as equipes que atingem o equilíbrio. Destacamos o programa de inclusão de gênero BBC 50:50 e um portal na Austrália que oferece fontes femininas alternativas aos homens que são os entrevistados de sempre. Na Alemanha, a linguagem de gênero virou polêmica, mas segue ganhando espaço no jornalismo. Há até iniciativas pouco coUm mergulho na (des) igualdade de gênero na mídia muns, como um uma rede de mídia na Finlândia que está oferecendo media training a fontes mulheres. Há muito ainda a caminhar. O último levantamento do Instituto Reuters sobre gênero nas redações mostra que nos 12 países analisados os homens ocupam a maioria dos cargos de liderança editorial, mesmo naqueles onde as mulheres são maioria na profissão. Considerando os editores principais dos dez principais veículos online e dos dez off-line, o Brasil ficou em penúltimo lugar no número de mulheres na chefia. Certamente vai ser preciso um esforço por parte dos veículos brasileiros para melhorar a representação das mulheres – e de outros grupos minoritários, como os negros – na liderança das suas redações. Olhares mais diversos têm um melhor entendimento do contexto e contribuem com melhores soluções para transformar a realidade. Um bom exemplo disso é mencionado no especial: o da cobertura de um estupro feita pelo New York Times, inicialmente por um jornalista e sua visão de mundo, cuja narrativa muda completamente após a entrada de uma jornalista no caso. A revitimização das mulheres agredidas é outra face obscura do desequilíbrio de gênero na mídia. Isso porque não é raro que elas voltem a ser vitimadas com a exposição de seus nomes, e até com a imputação de culpa pelo que sofreram. Aliás, a violência é o único tema em que o número de matérias sobre as mulheres é maior do que dos homens. O triplo. Outra preocupação é o assédio online. O chilling effect congela as mulheres jornalistas que são vítimas de assédio e atrapalha sua vida pessoal e sua carreira. Mas o equilíbrio da cobertura e uma representação sem rótulos não passam só pelo esforço dos veículos de notícias e das plataformas. O crescimento da liderança feminina corporativa e o aumento do número de mulheres porta-vozes é essencial para mudar o quadro. Nessa área, o especial traz depoimentos inspiradores de executivas de sete empresas. Elas falam do esforço necessário para quebrar as barreiras ao crescimento. Dizem que a discussão sobre as mulheres no mercado de trabalho já não cabe mais e que a mudança pode não ser linear, mas que é irreversível. E já pensam nos próximos passos: em como reter as mulheres no topo e abrir espaço na liderança para mulheres negras. O jogo está longe do fim. Mas alguns gols já foram marcados, demonstrando que é possível, sim, virar o placar da representação, desde que cada integrante do time faça a sua parte. Leia aqui a revista. John Hain / Pixabay

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