Edição 1.403 página 28 Agradecemos aos leitores que enviaram colaborações para recompor minimamente o nosso estoque do Memórias da Redação. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected]. Olhei para o texto que deveria ler e a primeira frase começava com “Os ônibus de São Paulo...”. Conferi no relógio: “18 horas, 10 minutos e 45 segundos”. Ou seja, o boletim ao vivo entraria exatamente às seis e onze. Prestei atenção, esperei o sinal e assim que entrei no ar não tive dúvidas: “6 e ônibus”! Foi o que bastou. Ninguém se lembra que em seguida eu corrigi: “Ou melhor, seis horas e onze minutos... Os ônibus de São Paulo...” O erro que durou menos de cinco segundos virou meme e foi apropriado por milhares e milhares de pessoas. A leitura errada aconteceu pouco antes da epidemia da Covid. Quando o problema de saúde pública se tornou grave eu (e centenas de outros colegas da Globo) fui confinado em casa para ficar protegido. O afastamento compulsório, com salário integral, ocorreu nos casos de doenças préexistentes ou pela idade acima dos 60 anos. Que foi o meu caso. Em agosto de 2021 voltei ao trabalho presencial e à apresentação de telejornais. E a grande surpresa foi descobrir que tanto tempo depois o “6 e ônibus” continuava vivo. Nas ruas eu era saudado pelo meme: “Tramontina, 6 e ônibus!” Isso acontecia a toda hora e nos mais diferentes lugares − no supermercado, no posto de gasolina, pelos motoristas de ônibus. A insistência com que as pessoas repetiam o bordão me levou a pensar sobre o assunto. Por que tudo aquilo? Como um erro podia se transformar numa brincadeira saudável? Por que o meme resistia ao tempo? Sete meses depois, quando me preparava para deixar a Globo depois de 43 anos de trabalho, o “6 e ônibus” continuava sendo repetido a toda hora. Então percebi que ali havia uma n A história desta semana é de um estreante, neste espaço: Carlos Tramontina, que por 43 anos foi repórter, editor e âncora no Jornalismo da TV Globo em São Paulo. Carlos Tramontina Um erro me humanizou oportunidade de negócio: registrei a marca e o domínio e imaginei comercializar diferentes produtos para atender a essa relação alegre e saudável produzida pelo meu erro. Tenho apenas uma explicação para o gigantismo do sucesso desse meme: o erro me humanizou. Passei décadas tentando ser perfeito, sem errar, sempre pronunciando corretamente as palavras. Assim como tantos colegas, sempre buscamos a perfeição na apresentação. E quando alguém errava era motivo de constrangimento. Os tempos mudaram, mas aquele padrão rigoroso continuou na cabeça dos telespectadores. O “6 e ônibus”, porém, me humanizou. O público se identificou comigo e passou a considerar que definitivamente eu era como todo mundo, eu acertava, mas também errava. E aí estava a beleza das coisas. Todos nós erramos e isso não é um problema. E quando conseguimos brincar com isso, todo mundo gosta. Hoje comercializo camisetas “6 e ônibus” por meio de uma plataforma digital. Em diferentes estampas, cores e tamanhos. E canecas com a logomarca. Isso não vai me fazer rico ou coisa parecida. Mas me traz uma alegria imensa. Também sou humano. Tanto tempo depois o “6 e ônibus” virou fantasia de carnaval e, principalmente, tatuagem. A toda hora alguém me envia uma foto do desenho marcado num lugar do corpo − braço, perna, panturrilha. Tenho uma coleção de imagens. A última é recente, de um rapaz que fez a tatuagem no pulso, como se fosse o relógio. Imaginem alguém perguntando pra ele “que horas são?”. E ele, orgulhosamente, levantando o braço esquerdo, olhando para o pulso, irá encher o peito e responder: “6 e ônibus”! Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Anna França ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)
RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==