Jornalistas&Cia 1403

Edição 1.403 página 19 conitnuação - Minas Gerais (*) J&Cia – Como e quando surgiu a questão de mudar e viajar? Glória – Conheci meu marido na redação do Estado de Minas. Ele é fotógrafo e um eterno apaixonado por viagens e culturas. O impulso para explorar o mundo veio dele, que sempre quis ver o mundo através das próprias lentes fotográficas. J&Cia – Por que viajar? Glória – Viajar é abrir parênteses na vida, levar a alma para passear, desbravar novas culturas, viver sem rotina, procurar uma nova moldura para o pôr do sol todos os dias. Desde que nos conhecemos, sempre fizemos viagens legais nas férias. Mas, em 2012, as férias ficaram pequenas para a nossa paixão por viajar. Aí decidimos pedir uma licença não remunerada para tirar um ano sabático e dar a volta ao mundo. Nessa época, viajamos de mochilão por Europa, Norte da África, Ásia e Oceania. J&Cia – Como vocês escolhem as cidades e países para viajar? Glória – A definição do roteiro de cidades e países é baseada em nossos sonhos de desbravar determinados lugares. Temos planos, mas nada fixo e engessado. Tudo pode mudar a cada curva da estrada. J&Cia – Por que um motorhome? Glória – Quando estávamos na Austrália, em 2013, alugamos um motorhome para viajar por lá. Aí nasceu a ideia de, quando voltássemos ao Brasil, construir uma casa sobre rodas para nós também. Assim nasceu A Casa Nômade. Em 2015, depois de lançar um livro sobre nossa volta ao mundo de mochilão, compramos uma Sprinter Mercedes-Benz e montamos a nossa casa sobre rodas. A bordo dela fizemos uma expedição por todos os estados brasileiros, em 2016, e em seguida viajamos pelos extremos das Américas, da Patagônia ao Alasca. O motorhome tem apenas 10 m2. É bem pequeno. Porém, nosso quintal é o mundo. Temos cama de casal, chuveiro quente, banheiro, fogão, forno, geladeira e até garagem, onde levamos uma moto e duas bicicletas. Temos o conforto da nossa casa em qualquer lugar do mundo. J&Cia – A escolha já foi motivo de arrependimento? Glória – Nunca houve arrependimentos. O único pesar é a saudade da família e dos amigos. Estar longe de abraços, aniversários e casamentos é desafiador! Entretanto, o mais incrível é que a estrada nos dá tudo que precisamos, inclusive novas amizades, suporte e apoio. O coração aprende a fazer novas moradas. Temos raízes fortes fincadas no interior de Minas, mas também temos asas para voar por diferentes paisagens. J&Cia – Viagens inesquecíveis? Glória – O Alasca foi uma das viagens mais incríveis de nossa expedição de motorhome. Vimos a Aurora Boreal (um balé nos céus), o Círculo Polar Ártico, o Sol da Meia-Noite, ursos pegando salmão nos rios, desprendimento de icebergs... foi incrível! A Ásia foi outra grande expedição, com culturas tão diferentes, religiões riquíssimas, cores e aromas marcantes. Destacamos a cidade de Luang Prabang, no Laos, como uma das joias do Sudeste Asiático. Lá, presenciamos a Ronda das Almas, uma linda procissão de monges budistas. Para fechar a lista dos destaques, tem a Transiberiana, uma viagem de trem da Rússia à China. Passamos sete dias no trem, cruzando paisagens incríveis, da Sibéria e da Mongólia, até chegar a Pequim. J&Cia – Aonde voltaria – ou não? Glória – Apesar dos desafios e perrengues, acredito que voltaríamos a todos os 68 países que já visitamos. J&Cia – Quais foram os momentos difíceis nas viagens? Glória – O mais desafiador foi a guerra na Nicarágua, em 2018. Atravessamos o país com muito medo. Várias barricadas nas estradas, tivemos armas apontadas para as nossas cabeças em três bloqueios rodoviários. Foi muito desafiador e perigoso. Também estávamos no Egito quando estouraram os protestos da Primavera Árabe, em 2012. Tivemos dificuldade para encontrar hospedagem segura, supermercados e restaurantes abertos. Na travessia pela América do Sul, o maior desafio foram as fronteiras próximas à Venezuela, em 2018. Encontramos milhares de imigrantes fugindo da crise humanitária nesse país e presenciamos cenas muito tristes e sofridas. J&Cia – O que marcou e quais são as culturas mais incríveis? Glória – Todas as culturas e povos são incríveis. Basta estar com o coração aberto para o contato com o novo. Quem deixa a zona de conforto de um lar para viver na estrada tem de estar predisposto a amar o novo, maravilhar-se com o diferente. É um exercício diário de se abrir para novas experiências. Ronda das Almas Transiberiana Renato Weil

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