Jornalistas&Cia 1403

Edição 1.403 página 14 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Muitos cordelistas, também chamados de poetas de bancada, optam pelo anonimato ou pseudônimo ao escreverem histórias nas quais inserem palavras, frases e versos de baixo calão. Mas há também autores que publicam esse tipo de história com nomes que corriqueiramente os identificam perante o seu público. São muitos os casos. Entre esses, Mestre Azulão, Erotildes Miranda dos Santos, Abrão Batista, Cícero Lins de Moura, Manoel Monteiro, Gonçalo Ferreira da Silva, Alípio Bispo dos Santos, Manoel Caboclo e Silva. É vasta a produção de histórias picantes na poética de cordel – e da dita literatura erudita, em que se destacam nomes de brasileiros como Olavo Bilac, Jorge Amado, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, sem falar no primeiro de todos: Gregório de Matos Guerra (1639-1696). O português Bocage, por extenso Manuel Maria de Barbosa du Bocage (17651805), fez piadas e versos picantes. E põe picante nisso! É dele a história A Mulher do Amigo, adaptada para quadrinhos e publicada no formato de folheto. Nessa história rola um triângulo amoroso, do tipo capaz de enrubescer até poste. Curiosidade: Bocage foi preso sob a acusação de, digamos, libertino. Isso em 1797. Os versos que o levaram à cadeia diziam: Pavorosa Ilusão de Eternidade Terror dos vivos, cárcere dos mortos; D’almas vãs sonhos vão, chamado inferno; Sistema de política opressora... Gozador em todos os sentidos, Bocage escreveu um soneto intitulado Epitáfio. Termina assim: … Aqui dorme Bocage, o putanheiro Passou a vida folgada e milagrosa Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro Em 2022 a editora BoiTempo publicou uma antologia do poeta intitulada Da Erótica. A organização da obra é de José Paulo Neto, crítico literário e estudioso dos textos de Marx. Mas voltemos aos nossos compatriotas, que usam a putaria para se expressar. O campo é minado, mas não tem como não reconhecer a graça originária fixada em letras de forma nos folhetos de cordel. Mestre Azulão, ora veja, paraibano, um dos criadores da Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, escreveu e publicou O Poder que a Bunda Tem. Engraçadíssimo. O pernambucano José Francisco Borges, o J. Borges, é cordelista Licenciosidade na cultura popular – II e xilogravador dos mais conhecidos e premiados no Brasil e mundo afora. É dele a bela xilo A Chegada da Prostituta no Céu e o cordel A Filosofia do Peido, cuja primeira estrofe é essa: Vários poetas escreveram O valor que o peido tem Eu achei muito engraçado O peido é feito um trem Tanto apita como ronca Na hora que o peido vem… Seguindo a mesma temática, isto é, a licenciosidade como tema do nosso dia a dia, o poeta repentista Otacílio Batista publicou de sua autoria o cordel em décimas de sete sílabas O Corpo da Mulher Nua. Na penúltima estrofe diz: Sobe tudo neste mundo Sem dó e sem compaixão, O relógio da inflação Nunca atrasou um segundo. É raro um cheque ter fundo Num país malgovernado. A rolinha do passado Abre o bico mas não canta, Mulher pelada levanta Salário de aposentado… O editor e cordelista cearense Klévisson Viana transformou em literatura poética o caso de uma prostituta que providencia um catimbó pra matar um delegado que a humilhou desferindo socos e pontapés. O final é feliz. Começa assim: Leitores, não se enfadam Vou retornar ao passado Para narrar uma história Que passou em nosso Estado O caso de uma puta Que matou, numa disputa, Um temível delegado... Esse folheto, intitulado O Romance da Quenga que Matou o Delegado, foi adaptado para um capítulo da série Brava Gente, da TV Globo. A personagem feminina foi interpretada pela atriz Ana Paula Arósio. Confira: https://youtu.be/L-tX8sy4MKg. Foto e reproduções por Flor Maria

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