Jornalistas&Cia 1399

Edição 1.399 página 6 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Um novo relatório da ONG britânica Hope Not Hate sobre a extrema-direita no Reino Unido, lançado esta semana, traz um capítulo dedicado a um “coach do Campari” em escala global, o influenciador misógino Andrew Tate. O documento, State of Hate 2023, examina temas como ódio a migrantes, teorias conspiratórias, terrorismo e movimentos anti-LGBTQIA+. Tate é apresentado como o mais grave exemplo do uso da internet para manipular audiência e ganhar dinheiro fazendo mal à sociedade. Ele está preso na Romênia por acusações de estupro, tráfico humano e crime organizado. Nascido nos EUA, mas criado emLuton, perto de Londres, área onde residemmuitos imigrantes, o influenciador começou como lutador de kickboxing e ficou famoso em 2016 participando do Big Brother. Foi expulso depois do surgimento de um vídeo em que aparecia batendo na namorada. O que para alguns seria devastador virou uma oportunidade que ele soube aproveitar, criando uma persona que se tornou ícone para comunidades anti-feministas. Andrew Tate não é o único a fazer isso. Mas foi mais longe do que muitos que tentaram. Em 2022, tornou-se a pessoa mais buscada no Google. Seus vídeos no TikTok alcançaram 11 bilhões de visualizações, promovendo desprezo a mulheres, racismo e homofobia em uma atmosfera de luxo e riqueza, com casas e carros de luxo. Sua suposta fortuna (que alguns duvidam que seja tão grande) veio de vídeos pornográficos. Ele também percebeu que a ilusão de dinheiro fácil era um filão, e criou uma “universidade” online para ensinar “estudantes” a manipular mídias sociais, repostar seu conteúdo e também ficarem ricos. O misógino foi banido das redes em agosto passado, quando ONGs como a Hope Not Hate soaram o alarme. Só que não adiantou − e isso mostra a fragilidade dos controles das plataformas. Seus seguidores, que ele chama de “soldados”, continuamdisseminando suas teses, sua fama, e a teoria conspiratória de que a Andrew Tate, o influenciador misógino que virou símbolo do perigo do discurso de ódio na internet prisão na Romênia é um ato do establishment, ou “The Matrix”. No Twitter ele nem precisa de soldados, pois Elon Musk restabeleceu sua conta. Parece tudo difícil de acreditar e restrito a nichos. Mas uma pesquisa de opinião encomendada pela Hope Not Hate mediu a extensão da influência de Andrew Tate na sociedade, quantificando o impacto que não cessou mesmo depois que ele foi preso e acusado de crimes. Entre todos os pesquisados na faixa de 16 a 24 anos, 94% ouviram falar dele, 67% assistiram ou leram algo de sua autoria e 28% têmuma visão positiva sobre ele. A taxa de visão positiva aumenta para 47% entre pessoas do sexo masculino. A principal razão é a crença de que ele «quer que os homens sejam homens de verdade», al imentando a violência contra mulheres e a intolerância. Uma comparação entre Tate e os principais políticos do país, que estão todos os dias nas primeiras páginas dos jornais e nos noticiários da TV, confirmou o que out ras pesqui sas já revelaram: o distanciamento dos jovens da mídia tradicional. Quase 8 em cada 10 jovens do sexo masculino entre 16 e 17 anos disseram ter consumido conteúdo produzido por Andrew Tate, mas 58% deles afirmaram não ter ouvido falar do primeiro- -ministro Rishi Sunak, enquanto 58% não tinham ouvido falar do prefeito de Londres, Sadiq Khan, e 32% disseram não conhecer o líder da oposição, Keir Starmer. A pesquisa da Hope Not Hate constata como as visões do influenciador estão moldando comportamentos, com mais de 30% dos jovens afirmando que não hámal em fazer piadas sobre a religião ou raça de alguém, ou compartilhar fotos íntimas enviadas em confiança por um parceiro romântico. A ONG alerta para os reflexos da normalização da violência onl ine no mundo real . E engrossa o coro dos que pedem a erradicação de conteúdos que glorificamamasculinidade tóxica e incentivam a violência contra a mulher. O relatório pode ser visto aqui. Andrew Tate

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==