Jornalistas&Cia 1399

Edição 1.399 página 17 n “Escreva, minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. Escreva mesmo bobagens, palavras soltas, experimente fazer versos, artigos, pensamentos soltos, descreva como exercício o degrau da escada de seu edifício (saiu em verso sem querer), escreva sempre, mesmo para não publicar e principalmente para não publicar...”. u A carta de Carlos Drummond de Andrade para a filha Maria Julieta não poderia estar mais atual como estímulo para quem quer se tornar escritor, como já ocorre com diversos jornalistas. A cada dia, assim como Drummond, cresce o número de jornalistas no mercado literário. u A verdade é que a maioria desses autores jornalistas não tem a pretensão de figurar entre os maiores escritores brasileiros, comoDrummond. Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, avalia que o setor é muito promissor e apresenta muitas oportunidades para o escritor. Ele explica que os jornalistas sempre foram escritores, ou seja, a base do ofício está na produção textual. Os jornalistas precisam escrever muito e, por outro lado, muitos escritores, comoDrummond, foram jornalistas para ganhar a vida contudo, a vocação primordial era a literatura. u “O jornalismo e a literatura são irmãos. Duas faces da mesma moeda”, observa Tavares. “Os jornalistas sempre escreveram muito e vários publicaram livros, prática que ainda permanece. O mercado literário é um ótimo segmento para jornalistas, uma vez que, emgeral, muitos desses profissionais já são populares e com nomes bastante difundidos na sociedade, sobretudo aqueles que trabalham em televisão e rádio”. n Américo Antunes, 66 anos, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, já escreveu quatro livros, sendo dois de ficção, os romances históricos Nós, que amamos a revolução e Terra prometida – um herege nas minas de ouro, e dois de não ficção, Do diamante ao aço – o ilustrado Intendente Câmara e a verdadeira história da primeira fábrica de ferro do Brasil e 1720/2020 – livro-reportagem das comemorações do tricentenário de Minas Gerais. Também atuou como organizador, editor e foi um dos redatores dos livros Expedição Halfeld, Jequitinhonha, a riqueza de um vale, João Antunes Vozes e Visões e Os Governadores – História de Minas Gerais. Antunes começou a escrever jovem, emDiamantina, arriscando alguns poemas e poesias, como gosta de contar, mais na tentativa de capturar as turbulências das inquietudes existenciais que varriam sua alma do que quaisquer outras pretensões literárias. Posteriormente, já morando em BH, a opção pelo curso de CoJornalistas mineiros diversificam atividades com redação de livros (parte 1 de 4) conitnuação - Minas Gerais (*) Rogério Tavares municação seria uma espécie de continuidade desse desejo em jornalismo, e da reportagempara os livros foi, então, “um pulo”. n Bruno Marques, 44 anos, lançou seu segundo livro, Outono Austral, pela editora Páginas, em 2022. Ele começou a escrever poesias aos 13 anos, formou-se emJornalismo aos 25, e acredita que estava pronto como escritor aos 40, com o lançamento de sua primeira obra, As noites mais escuras do inverno, pela mesma editora. “A população vive um momento de grande individualização e de perda da humanidade. Antagonicamente, foi pela cultura que as pessoas se tornaram mais humanas e somente a partir dela resgata-se a humanidade”, observa. n Hila Rodrigues, 56 anos, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), também começou a escrever na juventude, como umpassatempo, e acredita que o mundo fica mais bonito com os livros. Ela já escreveu dois livros, sendo o primeiro 3 em contos, produção independente com dois amigos também jornalistas: Laudeir Borges e Sidneia Simões. A obra, que traz contos sobre festas de fim de ano, foi lançada em dezembro de 2021. O segundo livro, Desassossego ilustrado, é um híbrido de textos curtos e poesia, ilustrado por Sofia Fuscaldi, também jornalista, cujo tema foi inspirado nos desafios enfrentados pelo mundo e, principalmente, no Brasil, entre 2018 e 2021. O período foi marcado pela crise sanitária, pensando em Covid-19, mas também por uma grave crise política, com reflexos econômicos e ambientais. n Carlos Drummond de Andrade influenciou muitos jornalistas, assim como Cecília Meireles inspirou Jalmelice Luz, 63 anos, que já escreveu dois romances (Noites Pretas e Sombra das ruas) e dois livros infanto-juvenis (Peixe-amigo-pássaro e Isadora e o planeta no nariz). Ela conta Américo Antunes Hila Rodrigues Jalmelice Luz Bruno Marques

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