Jornalistas&Cia 1399

Edição 1.399 página 12 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Diante de tragédias como a ocorrida no litoral norte paulista os meios de comunicação têmumpapel importantíssimo antes, durante e depois dos acontecimentos. Segundo os pesquisadores Debora Lopez, Marcelo Kischinhevsky e Lena Benzecry, nesse cenário de catástrofes o rádio deixa suas funções de relógio do cotidiano da população para ser um articulador entre os espaços públicos e privados, entre o doméstico e a cidade, resgatando seu papel de prestação de serviços e utilidade pública. Nesse sentido, é omeio de comunicação mais rápido e barato a se dispor a ajudar as vítimas, orientando, informando e ordenando as ações das comunidades e das autoridades em torno do que fazer para ajudar as pessoas atingidas. Na situação vivenciada pela população do litoral norte paulista logo após as fortes chuvas havia uma grande dificuldade em se manter o sistema de comunicação funcionando, pois muitas torres foram atingidas dificultando o contato por celulares e via internet. Foi aí que as emissoras de rádio locais se destacaram, ao servir de canal de comunicação entre os atingidos, as autoridades e a sociedade. Para os pesquisadores (Debora, Marcelo e Lena), a radiofonia tem uma capacidade diferenciada em operar em situações-limite, como na pandemia, enchentes, desabamentos, terremotos, furações, incêndios e desastres naturais como um todo. Eles afirmamque o rádio faz “a costura de um tecido social mais ou menos esgarçado, convocando a ação das autoridades, informando e narrando os acontecimentos, mobilizando a empatia e a solidariedade”. Os professores lembram que houve um aumento do consumo de rádio depois da pandemia da Covid-19 “e isso se deve, entre outros fatores, ao crescimento da demanda informativa gerada pela catástrofe”. Os autores citam que omeio apresenta duas vantagens sobre a televisão: sua credibilidade e a influência psicológica sobre a audiência, Rádio e catástrofes derivada principalmente de sua organização narrativa sonora e da proximidade que o meio estabelece com os ouvintes. No Brasil, o consumo de rádio cresceu, como indica o estudo Inside Radio 2020, da Kantar Ibope Media: 75% dos ouvintes mantiveram ou aumentaram o tempo de escuta e 17% indicaram ouvir muito mais rádio após a adoção das medidas de isolamento social. Entre os consultados, três a cada cinco escutaram rádio diariamente, em média 4h41. Os maiores impactos residem nas formas de consumo. Segundo a pesquisa, 78% dos entrevistados escutam rádio em casa e 18% no carro. Além disso, 81% utilizam o aparelho de rádio; 23%, o celular; 3%, o computador; e 4%, outros equipamentos. Um dado da pesquisa revela a conexão com a audiência e a compreensão das demandas do público por parte das rádios: a geração de conversas em redes sociais. Segundo o Inside Radio 2020, os tweets sobre rádio aumentaram77% entremarço de abril desse ano de 2020. Já a audiência em podcasting teve aumento mais expressivo. De acordo com a Voxnest (2020), o aumento foi de 42% em nível global, comdestaque para Turquia, Índia, Colômbia, Argentina e Brasil. Houve ainda aumento expressivo na Europa (53%), inclusive em países que adotaram lockdown, como Itália (29%) e Espanha (25%), com for te redução na mobilidade urbana – uma das chaves para o consumo de podcasts. Os pesquisadores declaram que o estudo da Kantar “aponta que a ampliação do consumo de rádio durante a pandemia tem relação com o caráter companheiro do meio, pelo diálogo e pela diversidade de conteúdo oferecido e plataformas ocupadas. Serviços de streaming e podcasts foram acessados, respectivamente, por 46% e 24% dos ouvintes, reiterando tanto o potencial informativo quanto de entretenimento do meio”. Os especialistas registram outro ponto diferencial do meio rádio: “Uma das principais forças do rádio nos momentos de enclausuramento e isolamento social é que uma das bases de funcionamento como instituição social e cultural é sua capacidade de gerar ‘copresença’. É a sensação que temos quando ligamos o rádio, de que outros fazem o mesmo, que escutam quando nós escutamos”. Ou seja, a sensação de presença humana em um momento de dificuldade e necessidade de acolhimento. Além da ajuda prestada nos momentos de tragédias, o rádio ainda contribui na formação e informação das comunidades. Em muitos municípios brasileiros, durante a pandemia, emissoras de rádio transmitiram aulas para auxiliar os estudantes e seus familiares que não podiam chegar às escolas. Debora, Marcelo e Lena recordamque “as aulas pelo rádio já foram realizadas emcatástrofes anteriores, como no surto de ebola na África entre os anos 2013 e 2016 e no terremoto chileno em 2010. Antes disso, no início do rádio brasileiro, havia ações de educação pelo dial. Edgard Roquette-Pinto desenvolvia ações como estas na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro nos primeiros anos do meio no Brasil. Ações posteriores, como o Movimento de Educação de Base, o Projeto Minerva e o Programa Escola Brasil, marcam a perenidade (ainda que não predominância) da relação entre educação e radiodifusão”. Além de todos esses processos indicados pelos pesquisadores, as Debora Lopez Marcelo Kischinhevsky Lena Benzecry

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