Jornalistas&Cia 1396

Edição 1.396 página 14 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Nascida na Quarta-feira de Cinzas de 1923, que caiu no dia 14 de fevereiro, a carioca de BanguCarmélia Alves cantou o Brasil emquase todos os ritmos: cateretê, toada, forró, choro, frevo, xote, sambas-canção, sambas de enredo (com Geraldo Filme, em 1969) e até marchinhas de carnaval. Começou cantando samba e até um LP com músicas da bossa nova ela gravou, em 1964. No auditório da Rádio Jornal do Commercio, em Recife, fez uma apresentação histórica interpretando baiões e tudomais. Foi emnovembro de 1950. Fez um pot-pourri e caiu na boca do povo. Não demorou e Luiz Gonzaga, que emplacava um sucesso atrás do outro a partir do Rio, a chamou de rainha do baião e até simbolicamente a coroou como tal. Não custa lembrar que Carmélia gostava de ouvir rádio e de cantar imitando, até nos trejeitos, a portuguesinha CarmenMiranda. Carmélia, de batismo Carmélia Alves Curvello, tinha uns 17 anos de idade quando − a princípio semos pais saberem− passou a frequentar auditórios e programas de calouros que se multiplicavamnas emissoras de rádio do Rio. Passou em todos, até no Estrada de Jacó ou algo parecido, comandado pelo invocado mineiro Ary Barroso. Em 1943 Carmélia gravou o primeiro disco: um 78 rpm, com as músicas Quem Dorme no Ponto é Chofer, de Assis Valente; e Deixei de Sofrer, de Horondino Silva e Buco do Pandeiro. Essa informação não está na discografia da música brasileira de 78 rpm e, até onde sei, em livro nenhum. Curiosidade: o referido disco foi produzido de modo independente, com o flautista Benedito Lacerda à frente. Os cantores Chico Alves, Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro e a divina Elizeth Cardoso formaram um coro para acompanhar a brilhante estreante. O disco foi independente, está claro? Carmélia Alves: 100 anos de vida e carnaval Mesmo fazendo bonito nos programas de calouro, Carmélia não conseguiu encantar de imediato os bam-bam-bans das gravadoras. Carmélia deixou a casa dos pais três meses depois de conhecer o paulista José Andrade Vilela Nascimento Ramos, comquem se casou no dia 27 de junho de 1944. Tempos de guerra e de dificuldades em todo canto, inclusive no Brasil. Carmélia cantou em quase todos os cassinos do Brasil, antes e depois de ficar famosa. O presidente à época era o gaúcho Getulio Vargas, substituído pelo marechal Dutra e por ordem da mulher, Carmela, achou por proibir o jogo de cassino no Brasil. Fato que mexeu profundamente com a vida dos artistas da época. Eu conheci Carmélia Alves num ano qualquer da década de 1990. Viramos amigos. Ela frequentava a minha casa e eu a dela, em Teresópolis (RJ). Fui lá várias vezes. Ora sozinho, ora com o sanfoneiro cearense Cezar do Acordeon, com quem cheguei a dividir parceria numa música em homenagem a ela. Homenagem em vida, né? Tive ótimos papos comomarido da Carmélia. Vozeirão, voz bonita. Jimmy Lester, alémde cantar, tocava vários instrumentos e produzia shows na vida. Sua carreira como cantor não duroumuito. Porque não quis. Gravou bons discos, boas músicas. Gosto de Jangada, canção do maestro Hervê Cordovil e do radialista Vicente Leporace, gravada em 1952. Foi nesse ano em que eu nasci, na capital paraibana. Ele deixou a carreira para dedicar-se à mulher. Escreveu e dirigiu vários espetáculos dela no Brasil e no exterior. “Jimmy foi meu único homem. Minha vida comele foi muito bonita, muito boa. Fomos marido e mulher durante 54 anos”, disse-me uma vez Carmélia. Carmélia Alves foi uma mulher incrível. Embora imitasse Carmen Miranda no início da carreira, conseguiu destacar-se na música brasileira como uma das maiores vozes. Cantava lindamente. Depois que achou a sua própria voz, o seu timbre, aí ninguém mais a segurou. E não dá para compará-la a ninguém, nem a Dalva de Oliveira ou a Elis Regina. Foi grandona, mesmo! Não à toa, tráfegou com extremo desembaraço nos ritmos e gêneros musicais que abundam no nosso país. Gostava de ler. Érico Veríssimo era um de seus grandes autores. Gostava da música erudita: Bach, Beethoven… Não foram poucos os discos que Carmélia gravou. Dezenas, dezenas. Seu repertório é extenso. E cantava onde tinha gente pra ouvi-la. Gravou discos em vários países: na Rússia, Alemanha, Itália, EUA, Argentina, Uruguai (onde gravou umbelíssimo LP), Portugal, África e tal. Divulgando o baião e outros gêneros de nossa música, Carmélia apresentou-se em dezenas e dezenas de países com Jimmy a seu lado. Levou a sério o “título” de rainha do baião dado por Gonzaga. Fez muito sucesso. Músicas que gravou continuamno inconsciente popular. Exemplos: Sabiá na gaiola, Trepa no Coqueiro… Minha filha caçula, Clarissa, ama até hoje Sabiá na Gaiola… De Gonzaga e parceiros, Carmélia gravoumuitas músicas. E de Hervê também, até um LP só com Apresentação na Rádio Jornal do Commercio Carmélia, ao centro, com Assis e as também cantoras Marinês (esq.) e Anastácia

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