Jornalistas&Cia 1385

Edição 1.385 página 9 Especial Consciência Negra do Jornegro, um importante jornal do Movimento Negro. Dos nossos contemporâneos, amo Oswaldo de Camargo, apesar de ele ter atuado muito mais na revisão, mas seus escritos e estudos jornalísticos são impecáveis. E todos os meus parceiros e minhas parceiras da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, com destaque para meu irmãozinho Flávio Carrança. Porém, tem muita gente boa fazendo jornalismo negro, no rádio, na TV – veja Maju Coutinho, Heraldo Pereira, Joyce Ribeiro –, como também na revista Raça Brasil e nos jornais Alma Negra e O Empoderado. Assis: Eu sabia, Oswaldo, que você ia me dizer, que Luiz Gama foi o mais forte jornalista negro no Brasil. Por quê? Oswaldo: A começar pela história de ele não ter podido estar em escola formal, por ter sido escravizado por oito anos. Foi alfabetizado aos 17, por um jovem estudante da escola de Direito do Largo São Francisco. Pouco tempo depois escreveu nos mais importantes jornais da província de São Paulo, e criou três jornais com o Angelo Agostini: O Diabo Coxo, o Cabrião e o Polichinelo. Árduo defensor da abolição, da República e da liberdade. Só se fala de sua carreira de advogado, mas foi também um grande jornalista. A cada dia se descobrem novos escritos dele. Um pesquisador levantou mais de 800. Não por acaso eu escrevi um romance juvenil intitulado A Luz de Luiz – Por uma terra sem reis e sem escravos. Assis: No jornalismo eu cresci sem jornalistas negros ao meu redor. Isso continua. Por quê? Oswaldo: Esta resposta já foi dada. Esse número continua ínfimo porque a imprensa hegemônica é branca. Mas não seja injusto, no final dos anos 1970 e início dos 80, você trabalhou na reportagem policial da Agência Folhas, ao lado de um grande jornalista negro chamado Oswaldo Faustino, que mais tarde seria editor de Cultura no Diário Popular… grande e modesto (risos). Assis: Seu melhor momento como repórter... Oswaldo: Vou destacar uma matéria para a revista Raça Brasil. O editor me pediu para entrevistar por telefone para uma matéria de capa o Ed Motta. Mandou um fotógrafo, do Rio, fotografá-lo. A assessora disse que ele só tinha uma hora para a revista, somando o tempo com o fotógrafo e com o entrevistador, e as fotografias demoraram 45 minutos. Eu só teria 15. O editor até passou mal e eu ri. Começou a entrevista e, em determinado momento eu disse: “Ed, sua assessora disse que só tenho 15 minutos para te entrevistar. Já conversamos uma hora e meia. Você quer parar?”. E ele respondeu: “De jeito nenhum, esta entrevista está ótima. Vamos continuar!”. Me senti realizado. Assis: Você sofreu alguma discriminação na sua vida profissional? Oswaldo: Quanto tempo você tem para ouvir todas? (risos) João do Rio Abdias do Nascimento Oswaldo de Camargo Odia 20 de novembro foi escolhido como o Dia da Consciência Negra em 2011, quando Dilma Rousseff era presiden- te da República. O texto aprovado pelo Congresso foi: LEI Nº 12.519, DE 10 DE NOVEMBRO DE 2011 Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É instituído o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia 20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 10 de novembro de 2011; 190º da Independência e 123º da República. DILMA ROUSSEFF Mário Lisbôa Theodoro A dívida que o Brasil tem com os negros e negras é impagável. LEIAMAIS: IMPRENSANEGRA, RESISTENTE EHEROICA: PARTE I • IMPRENSANEGRA, RESISTENTE EHEROICA: PARTE II • IMPRENSANEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE III • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE IV • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE V • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VI • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VII • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VIII (FINAL) Oswaldo de Camargo Pág.1

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