Jornalistas&Cia 1385

Edição 1.385 página 7 Especial Consciência Negra encarregadas das tarefas domésticas. Eram tratadas como pessoas da família, que comiam a mesma comida e participavam de festas ou comemorações com a maior intimidade. Apesar dessa comprovada experiência, algumas vezes me surpreendi chamando de coisa de preto algum procedimento pouco civilizado, como jogar papel na rua ou buzinar na frente de um hospital. Mais recentemente, tem sido comum certas pessoas se recusarem a entrar num elevador onde se encontra uma pessoa de cor preta ou má vestida. Casos do gênero aparecem diariamente nos noticiários de televisão, fartamente ilustrados com imagens. Já passou da hora de superarmos tais desencontros. Tenho certeza, ou pelo menos esperança, de que alcançaremos em breve a igualdade de tratamento entre pessoas diferentes de gênero, cor ou qualquer outra forma de identificação.” No jornal, revista, Rádio e TV é visível a atuação de redatores e repórteres. Carlos Silvio é um profissional do rádio e a ele pedi um pequeno depoimento: “’Racismo, preconceito e discriminação em geral/É uma burrice coletiva sem explicação’, diz um trecho da letra da música Racismo É Burrice, de Gabriel, O Pensador. Pois bem, o racismo existe. O racismo sempre existiu. O racismo sempre, infelizmente, existirá. O debate racial nunca esteve tão em alta na sociedade brasileira. As políticas de ações afirmativas, idem. Eu, como radialista e apresentador do programa Paiaiá na Conectados, há mais de seis anos, na Rádio Conectados, nunca sofri racismo. Mas já entrevistei gente que sofreu, como o locutor esportivo baiano Sílvio Mendes. ‘O início foi muito difícil no rádio, por eu ser negro’, afirma Mendes. Os movimentos negros, que poderiam contribuir mais para o debate, parecem adotar uma narrativa político/ partidária, em que se um negro não é da mesma linha ideológica, é excluído, deixado de lado. Eu, como índio/negro, o fato de não ter sofrido racismo, não significa que não luto para o fim deste mal. No entanto, acredito que a melhor forma é o direito à igualdade, sem qualquer tipo de porcentagem em qualquer espaço. O rádio me deu esta possibilidade de me comunicar, sem me sentir inferior ou superior. Nossa consciência é única e deve ser sempre mais humana.” Pessoalmente e pardo que sou no corpo e documentos, considero necessária a iniciativa de proclamar o direito de cotas pra negros, negras e indígenas neste país tão imenso e tão desigual. Perguntei ao jornalista, ator e autor musical Oswaldo Faustino o que acha disso. E ele: “As cotas/reparações raciais que incomodam tantas as pessoas são mais que necessárias por conta dos 350 anos de escravidão em que a população descendente de africanos, através de leis, foi proibida de se beneficiar de vários setores da sociedade, dentre eles a educação, a posse de terras, entre outros. No caso das universidades, eu vejo as cotas mais do que beneficiando os cotistas, beneficiando a própria instituição, uma vez que abre estudos de temas que jamais seriam abordados e que com a presença negra dão à universidade a possibilidade de se tornar universal.” Embalado pela resposta que ouvi, fiz com ele a seguinte entrevista, na base do pingue-pongue: Assis Ângelo: O Brasil é negro. Que importância tem o Brasil para o negro? Oswaldo Faustino: A importância do Brasil para o negro é a mesma do negro para o Brasil. Nossos antepassados foram Carlos Silvio Oswaldo Faustino e Assis Ângelo Pág.1

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