Jornalistas&Cia 1385

Edição 1.385 página 6 Especial Consciência Negra (1947-2018). Trabalhei com ele, no tempo em que ele era editor geral do jornal Correio da Paraíba, hoje portal na internet, e eu editor de Local. Local era o nome que se dava, na Paraíba, à editoria que reunia notícias da cidade. No caso, especificamente, João Pessoa. João Bosco foi uma figura muito conhecida e polêmica. Figura conhecida e também polêmica foi o paraibano de Santa Rita Severino Ramos Pedro da Silva, por todos chamado de Biu Ramos. Também trabalhei com ele. Biu Ramos (1938-2018) iniciou a carreira de jornalista como datilógrafo do promotor público Ivaldo Falconi, editorialista do jornal Correio da Paraíba. E foi então que ele, a partir daí, foi contratado como redator do jornal. E aí tudo ficou mais fácil. Biu Ramos escrevia muito bem, mas era um chefe ranheta. Detestava burrice. Uma de suas frases mais conhecidas é esta: “[...] A vida roda, até a consumação dos séculos, para sempre, sem fim, amém [...]”. O jornalista Biu Ramos não conheceu o poeta Augusto dos Anjos, mas conheceu e entrevistou o romancista paraibano, autor de Menino de Engenho e Fogo Morto, Zé Lins do Rego. O texto memorial que Biu faz sobre Zé Lins é memorável. Começa assim: “Lembro-me como se fosse hoje. Foi aí por volta de 1952 (eu tinha exatamente 14 anos). Era o governo de José Américo, eu havia lido em A União que o grande romancista de Pilar encontrava-se na Paraíba em visita ao seu amigo governador, de quem participara da campanha que o elegeu em 1950. Passava pouco das nove horas da manhã, eu sentado num banco em frente à igreja, quando vi parar um jipe na porta da casa-grande e dele saltar aquele corpanzil imenso, sólido e ágil, os óculos inseparáveis, a roupa de linho branco, o paletó aberto, sem gravata, tão à vontade como se estivesse entrando na casa-grande do seu avô. Nunca o tinha visto de corpo inteiro, conhecia apenas a sua cara redonda com aquele começo de sorriso, no célebre bico de pena de Luiz Jardim. Mas não tive dúvida: ‘Zé Lins’, disse comigo. ‘Meu Deus, é Zé Lins do Rego que está chegando ali, trazido por Dr. Odilon’. Senti uma emoção forte e sincera. Tanto falava dele em Jorge Araújo minhas conversas com Seu Rodolfo que toda a minha mente já estava tomada de sua narrativa sem floreios, de seus personagens familiares e de sua linguagem peculiar, que eu o considerava um desses seres distantes, inalcançáveis, que só existiam em nossa imaginação. Dois dias antes eu tinha lido um de seus artigos em A União, reproduzido de outono, no qual ele falava de coisas da Paraíba, citava José Américo. Como podia um escritor daquela dimensão, que escrevia em O Globo, que já publicara tantos livros, estar ali, à meia distância de mim? Eu me refiz do susto − e foi um susto − e decidi que iria abordá-lo, iria conversar com ele, aquele seria o meu dia de glória e da minha definitiva consagração, que haveria de ficar eternamente gravado na minha memória. E ficou. [...]” (Do livro Memórias de Um Repórter, A União; 1994) O santarritense Biu deixou sete ou oito livros publicados. A maior parte da população brasileira é formada por pretos e pardos. Em 1872, o Brasil tinha uma população estimada em algo em torno de 10 milhões de pessoas. Mais ou menos 15% dessa população era constituída de negros escravizados. Tem sido comum, mas não dá para nos habituarmos com frases do tipo “negro, quando não faz na entrada, faz na saída”. Pedi ao jornalista pernambucano Flávio Tiné, pardo, um pequeno depoimento a respeito de frases desse tipo, questões desse tipo. E ele: “Como todo pretenso escritor, me surpreendia às vezes construindo frases de caráter racista. A revisora imediatamente chamava a minha atenção para o deslize, sabedora de que não se tratava de convicção, mas de um texto mal articulado, que não levou em conta a natural convivência de pessoas de cor diferente. Tinha em minha própria casa algumas pessoas de cor preta, Flávio Tiné no Instituto Memória Brasil pfizer.com.br Por mais equidade no mundo. Grandes avanços que mudamas vidas dos pacientes . Pfizer: há 70 anos trabalhando por grandes avanços que mudamas vidas dos brasileiros. PP-UNP-BRA-1020 A Pfizer valoriza a diversidade e acredita que todas as pessoas merecem ser vistas, ouvidas e cuidadas, independentemente da sua cor, idade, religião ou orientação sexual. 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Pág.1

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