Edição 1.385 página 4 Especial Consciência Negra A importância dos jornalistas negros na imprensa brasileira é inegável. Muitos jornais foram fundados, dirigidos e redigidos por profissionais negros, mas nem todos são identificados. Ficavam na moita. Muitos textos eram assinados com o carimbo, digamos, de Redator. Poucos sabiam quem era Redator ou O Redator. Editor era um detalhe, como detalhe era o corpo redacional. Os jornais pioneiros no campo de luta pelo abolicionismo foram publicados em Pernambuco (O Homem), Rio Grande do Sul (O Exemplo), São Paulo (A Pátria) e outras publicações noutras partes do País. A chamada “imprensa negra” continuou atuando. Hoje são poucas as publicações direcionadas à questão da negritude, mas o problema continua grave. Todo dia sai notícia relacionada ao racismo. No último dia 29 de outubro deste ano de 2022, a deputada por São Paulo Carla Zambelli, de revólver em punho, foi vista e filmada por câmeras instaladas estrategicamente nas ruas perseguindo um jornalista negro, atuante no setor esportivo: Luan Araújo, de 32 anos. Nos jornais, revistas, rádio e televisão, o campo de trabalho para jornalistas negros está se ampliando, embora vagarosamente. O primeiro repórter negro a ocupar espaço de apresentador no Jornal Nacional, ainda o mais assistido, foi o paulista Heraldo Pereira. Isso em 2002, portanto há exatos 20 anos. Heraldo passou pelos principais jornalísticos da TV Globo, incluindo o Fantástico. E continua firme fazendo o que sabe fazer: jornalismo. A propósito, ele destaca que foi numa edição desse programa que fez uma de suas melhores reportagens. Tratava-se do acordo entre o governo da África do Sul com os grupos que defendiam o fim do apartheid. A primeira jornalista negra a apresentar o Jornal Nacional foi a paulistana, da região de Pinheiros, Maria Júlia Coutinho, a Maju. Maju é uma pessoa incrível, cheia de graça e muito simples. Sabidona. Sabe de tudo e um pouco a mais. Conheci Maju pouco antes da pandemia do Novo Paula Brito Coronavírus, quando apresentava um programa todo seu na extinta Rádio Globo. E aí falei, falei e declamei, declamei e disse muita coisa. POEMA DOS OLHOS Maju foi vítima do radicalismo político e racial, de pessoas que atacam pessoas por pensarem diferente. Antes de Heraldo, estreou no programa Fantástico a repórter negra, carioca, Glória Maria. Linda. Isso em 1998. Uma de suas melhores reportagens foi a que fez sobre o chamado “País da Felicidade”, localizado no Continente asiático, Butão. Glória é do ano de 1949. Bem mais nova do que ela é Mariana Aldano, nascida na Capital paulista em 1986. É negra, ativíssima. De uma inteligência espantosa. Simples. Antes de ser contratada pela TV Globo, correu mundo. Fala alemão, dinamarquês, espanhol e inglês e esteve a trabalho em Londres, Alemanha, Dinamarca, Malásia, Hong Kong e Tailândia. Perguntei: Qual é a importância dos movimentos negros no Brasil? Mariana considera de extrema importância os movimentos negros não só no Brasil, mas também mundo afora. Pra ela, e também pra mim, “somos todos iguais, independentemente de cor, condição social e crença”. À propósito, esse entendimento natural consta da nossa Constituição (1988), especialmente no art. 5º: Assis e Maju Coutinho Pág.1
RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==