Jornalistas&Cia 1385

Edição 1.385 página 2 Especial Consciência Negra Pesquisas indicam que a maioria da população brasileira é formada por pretos e pardos. Pretos e pardos são pessoas que assim se declaram aos agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para fins políticos, segundo o Instituto, “negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se identifique”. A Região Nordeste é a que registra o maior número de pretos e pardos. Dentre os nove Estados, a Bahia é destaque. A História aponta que foi a Bahia o lugar em que os chamados “homens de cor” mais se rebelaram contra o sistema escravocrata. Foi lá, por exemplo, que ocorreu a Revolta dos Malês, na madrugada de 25 de janeiro de 1835. Entre os líderes, uma mulher: Luiza Mahin, mãe do jornalista e poeta Luiz Gama. Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi o primeiro jornalista negro do Brasil. Nasceu em Salvador e pelo pai foi vendido como escravo. Tinha dez anos de idade. Passou uns tempos no Rio de Janeiro e depois, no interior paulista. Foi alfabetizado, às escondidas, por um amigo de seu dono. Depois de livrar-se da condição de escravo, Luiz Gama dedicou-se à luta pela liberdade das pessoas escravizadas. No decorrer dessa luta conseguiu livrar do cativeiro centenas de homens e mulheres. A própria liberdade Luiz Gama conseguiu pouco antes de completar 18 anos de idade, provando que nascera de um ventre livre. Casou-se aos 29 anos com uma mulher chamada Claudina Fortunato, com quem teve um filho: Benedito. Na imprensa foi atuante, chegando a fundar jornais junto com profissionais do naipe de Angelo Agostini e Rui Barbosa. Chegou a dividir espaço em jornais com Castro Alves, O Poeta dos Escravos. Esse título, digamos assim, Alves ganhou espontaneamente da imprensa por sua dedicação à causa abolicionista. É dele o poema Navio Negreiro, uma parte do qual gravei com o professor músico Jorge Ribbas. Foi no jornal recifense A Primavera que publicou o primeiro poema sobre a temática, A Canção do Africano, em 1863. Começa assim: Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez, pr’a não o escutar!... Luiz Gama que viveu num tempo de extrema violência, política inclusive, morreu de diabetes e sem voz, seis anos antes de a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, na manhã do dia 13 de maio de A presença do jornalista negro na imprensa brasileira Por Assis Ângelo Com Anna da Hora Sena (pesquisas e infraestrutura) e Flor Maria (fotos e reproduções) Luiz Gama Pág.1

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