Jornalistas&Cia 1385

Edição 1.385 - 16 a 24 de novembro de 2022 Luta antirracista e pela equidade precisa avançar nas redações brasileiras Em 2021, a newsletter Jornalistas&Cia e o Portal dos Jornalistas dedicaram o Especial sobre o Dia da Imprensa, celebrado em 1º de junho, ao centenário de morte do jornalista negro e gay João do Rio, tema a nós trazido pelo jornalista e pesquisador Assis Ângelo, cego há vários anos e nosso colaborador permanente com a coluna Preciosidades do Acervo Assis Ângelo. Ainda em 2021, em parceria com o Instituto Corda e o I’Max, esses nossos dois veículos produziramum inédito censo sobre o Perfil Racial da Imprensa Brasileira, que confirmou comnúmeros a realidade que todos já conheciam: a presença dos negros na imprensa brasileira ficava muito abaixo da representatividade negra na sociedade brasileira. Neste ano de 2022, dando sequência a essa luta antirrascista, esses nossos dois veículos voltaram a focar no tema com a realização do Projeto #diversifica, apoiado pela Meta e ancorado pela jornalista Luana Ibelli, com direção de Fernando Soares, que gerou podcasts, newsletters, posts em redes sociais, entre outras ações, dando vez e voz a grupos minorizados e minoritários, entre eles negros, LGBTQIA+ e PCDs. Indo além, J&Cia fechou parceria com a Jornalistas Pretos − Rede de Jornalistas Pretas, Pretes e Pretos pela Diversidade na Comunicação, para a veiculação semanal de uma coluna com conteúdos focados nos profissionais e temas de interesse da comunidade jornalística negra (ver pág. 25). Agora, às vésperas do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, vamos escrever um novo capítulo nessa luta: um especial, produzido novamente com a colaboração de Assis Ângelo, sobre a presença dos negros na imprensa brasileira – desde os primórdios, no Século XIX, até essas duas primeiras décadas do Século XXI. O objetivo é continuar a debater e, mais do que isso, a estimular que o tema racial ganhe relevância e amplitude dentro das redações jornalísticas para que, desse modo, a sociedade brasileira venha a ter efetivamente pautas mais diversas, equitativas e equilibradas, que representem os anseios de toda a população brasileira e não majoritariamente da parte hoje representada pela maioria branca que domina as redações, sobretudo nos cargos de liderança e edição. É um trabalho autoral, como propusemos ao Assis, que aceitou sem pestanejar a missão e foi à luta realizando entrevistas, pesquisas e uma intensa viagem por sua exuberante memória em que o tema racial sempre teve lugar. A ele, a Anna da Hora, que tem sido seu anjo da guarda na continuidade de sua jornada profissional, a Flor Maria, que tem feito fotos e lido jornais, revistas e livros para ele, e a todos que com ele colaboraram para este especial, nossos sinceros agradecimentos. Os mesmos, aliás, que também fazemos às organizações e marcas que estão ao nosso lado nesse projeto. Equipe de Jornalistas&Cia n Levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 385 bloqueios de autoridades públicas brasileiras a profissionais de imprensa até 11 de novembro. O monitoramento, realizado desde setembro de 2020, mostrou que ao menos 192 jornalistas foram impedidos de acessar contas de parlamentares, ministros, prefeitos e/ou do presidente da República. u O presidente Jair Bolsonaro lidera o ranking como autoridade quemais bloqueou jornalistas no Twitter, com 104 restrições. Em segundo lugar está Mário Frias, ex-secretário especial da Cultura, com 43 bloqueios. Em seguida aparece Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, com 42. Somados, os vetos dos três representam 49% do total de bloqueios. u Só em 2022, foram 36 bloqueios a profissionais de imprensa. A maioria dos jornalistas relatou que o veto foi motivado por questionamentos e críticas que f izeram às autoridades. Confira mais informações do monitoramento aqui. Especial Consciência Negra Abraji registra 385 bloqueios de autoridades a jornalistas no Twitter

Edição 1.385 página 2 Especial Consciência Negra Pesquisas indicam que a maioria da população brasileira é formada por pretos e pardos. Pretos e pardos são pessoas que assim se declaram aos agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para fins políticos, segundo o Instituto, “negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se identifique”. A Região Nordeste é a que registra o maior número de pretos e pardos. Dentre os nove Estados, a Bahia é destaque. A História aponta que foi a Bahia o lugar em que os chamados “homens de cor” mais se rebelaram contra o sistema escravocrata. Foi lá, por exemplo, que ocorreu a Revolta dos Malês, na madrugada de 25 de janeiro de 1835. Entre os líderes, uma mulher: Luiza Mahin, mãe do jornalista e poeta Luiz Gama. Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi o primeiro jornalista negro do Brasil. Nasceu em Salvador e pelo pai foi vendido como escravo. Tinha dez anos de idade. Passou uns tempos no Rio de Janeiro e depois, no interior paulista. Foi alfabetizado, às escondidas, por um amigo de seu dono. Depois de livrar-se da condição de escravo, Luiz Gama dedicou-se à luta pela liberdade das pessoas escravizadas. No decorrer dessa luta conseguiu livrar do cativeiro centenas de homens e mulheres. A própria liberdade Luiz Gama conseguiu pouco antes de completar 18 anos de idade, provando que nascera de um ventre livre. Casou-se aos 29 anos com uma mulher chamada Claudina Fortunato, com quem teve um filho: Benedito. Na imprensa foi atuante, chegando a fundar jornais junto com profissionais do naipe de Angelo Agostini e Rui Barbosa. Chegou a dividir espaço em jornais com Castro Alves, O Poeta dos Escravos. Esse título, digamos assim, Alves ganhou espontaneamente da imprensa por sua dedicação à causa abolicionista. É dele o poema Navio Negreiro, uma parte do qual gravei com o professor músico Jorge Ribbas. Foi no jornal recifense A Primavera que publicou o primeiro poema sobre a temática, A Canção do Africano, em 1863. Começa assim: Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez, pr’a não o escutar!... Luiz Gama que viveu num tempo de extrema violência, política inclusive, morreu de diabetes e sem voz, seis anos antes de a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, na manhã do dia 13 de maio de A presença do jornalista negro na imprensa brasileira Por Assis Ângelo Com Anna da Hora Sena (pesquisas e infraestrutura) e Flor Maria (fotos e reproduções) Luiz Gama Pág.1

Edição 1.385 página 3 Especial Consciência Negra 1888. Tinha 52 anos. Seu féretro foi acompanhado por cerca de 4 mil pessoas. A população da Capital paulista era de 40 mil habitantes. O corpo está sepultado no Cemitério da Consolação. Durante toda a sua vida Luiz Gama atuou na imprensa paulista e em alguns jornais do Rio. O que escreveu está sendo reunido pelo doutorando em História do Direito Bruno Rodrigues de Lima, da Universidade de Frankfurt. Segundo ele, esse material será publicado até o final deste ano pela editora Hedra, em 11 volumes. Não à toa, os poderosos de seu tempo o temiam. Uma de suas frases fez muito barulho, esta: “Todo escravo que mata um senhor, seja em que circunstância for, mata em legítima defesa”. Gama, autor do livro Primeiras Trovas Burlescas (1859) costumava apresentar-se assim: Amo o pobre, deixo o rico, Vivo como o Tico-tico; Não me envolvo em torvelinho, Vivo só no meu cantinho: Da grandeza sempre longe Como vive o pobre monge. Tenho mui poucos amigos, Porém bons, que são antigos, Fujo sempre à hipocrisia, À sandice, à fidalguia; Das manadas de Barões? Anjo Bento, antes trovões. Faço versos, não sou vate, Digo muito disparate, Mas só rendo obediência À virtude, à inteligência… (Quem Sou Eu, páginas 110 a 114) Os poderosos mais esclarecidos viam no filho de dona Luiza Mahin um dos revoltosos da tomada de São Domingos, no Haiti. Se Luiz Gama foi o primeiro jornalista negro de nossa história, também não custa lembrar que foi um jornalista negro o primeiro e único, até agora, a ocupar a cadeira de presidente da República, entre 1909 e 1910, depois de eleger-se deputado Constituinte, governador do Rio de Janeiro e senador. Refiro-me ao fluminense Nilo Procópio Peçanha. Nilo Peçanha nasceu no dia 2 de outubro de 1867 e morreu no dia 24 de agosto de 1924. Era pobre, de família pobre. O pai era padeiro. Frequentou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, mas bacharelouse no Recife. Tinha 20 anos. E, como Luiz Gama, foi um grande abolicionista. Permaneceu no cargo de presidente por 17 meses, substituindo Afonso Pena (1847-1909), que morreu no Catete vítima de pneumonia. Bom administrador da coisa pública, Nilo Peçanha criou o Ministério da Agricultura e introduziu o ensino técnico no Brasil, depois de criar o Serviço de Proteção ao Índio, que em 1967 se transformaria na Funai. Contemporâneo de Luiz Gama foi o poeta, tipógrafo e editor literário Francisco de Paula Brito quem descobriu Machado de Assis para as letras nacionais. O tempo faria de Machado crítico literário e colunista político, com presença frequente no Parlamento. Publicava seus textos políticos no Diário do Rio de Janeiro. Embora tenha sido o fundador da revista A Mulher do Simplício (1832) e dos jornais O Homem de Cor (1833) e A Marmota (1849), Brito não se considerava jornalista. Assis com livros sobre imprensa negra A equidade racial é um valor amplamente disseminado na Aegea. Há cinco anos, por meio do programa Respeito Dá o Tom, buscamos combater a desigualdade racial no mercado de trabalho, ampliando as oportunidades de emprego e aumentando a representatividade nos diversos níveis hierárquicos da companhia. movimenta a inclusão Nossa natureza Diego Azevedo Fiscalização Angélica Braz Responsabilidade Social Prolagos Para nós, todo dia é Dia da Consciência Negra. aegea.blog.br/ Pág.1

Edição 1.385 página 4 Especial Consciência Negra A importância dos jornalistas negros na imprensa brasileira é inegável. Muitos jornais foram fundados, dirigidos e redigidos por profissionais negros, mas nem todos são identificados. Ficavam na moita. Muitos textos eram assinados com o carimbo, digamos, de Redator. Poucos sabiam quem era Redator ou O Redator. Editor era um detalhe, como detalhe era o corpo redacional. Os jornais pioneiros no campo de luta pelo abolicionismo foram publicados em Pernambuco (O Homem), Rio Grande do Sul (O Exemplo), São Paulo (A Pátria) e outras publicações noutras partes do País. A chamada “imprensa negra” continuou atuando. Hoje são poucas as publicações direcionadas à questão da negritude, mas o problema continua grave. Todo dia sai notícia relacionada ao racismo. No último dia 29 de outubro deste ano de 2022, a deputada por São Paulo Carla Zambelli, de revólver em punho, foi vista e filmada por câmeras instaladas estrategicamente nas ruas perseguindo um jornalista negro, atuante no setor esportivo: Luan Araújo, de 32 anos. Nos jornais, revistas, rádio e televisão, o campo de trabalho para jornalistas negros está se ampliando, embora vagarosamente. O primeiro repórter negro a ocupar espaço de apresentador no Jornal Nacional, ainda o mais assistido, foi o paulista Heraldo Pereira. Isso em 2002, portanto há exatos 20 anos. Heraldo passou pelos principais jornalísticos da TV Globo, incluindo o Fantástico. E continua firme fazendo o que sabe fazer: jornalismo. A propósito, ele destaca que foi numa edição desse programa que fez uma de suas melhores reportagens. Tratava-se do acordo entre o governo da África do Sul com os grupos que defendiam o fim do apartheid. A primeira jornalista negra a apresentar o Jornal Nacional foi a paulistana, da região de Pinheiros, Maria Júlia Coutinho, a Maju. Maju é uma pessoa incrível, cheia de graça e muito simples. Sabidona. Sabe de tudo e um pouco a mais. Conheci Maju pouco antes da pandemia do Novo Paula Brito Coronavírus, quando apresentava um programa todo seu na extinta Rádio Globo. E aí falei, falei e declamei, declamei e disse muita coisa. POEMA DOS OLHOS Maju foi vítima do radicalismo político e racial, de pessoas que atacam pessoas por pensarem diferente. Antes de Heraldo, estreou no programa Fantástico a repórter negra, carioca, Glória Maria. Linda. Isso em 1998. Uma de suas melhores reportagens foi a que fez sobre o chamado “País da Felicidade”, localizado no Continente asiático, Butão. Glória é do ano de 1949. Bem mais nova do que ela é Mariana Aldano, nascida na Capital paulista em 1986. É negra, ativíssima. De uma inteligência espantosa. Simples. Antes de ser contratada pela TV Globo, correu mundo. Fala alemão, dinamarquês, espanhol e inglês e esteve a trabalho em Londres, Alemanha, Dinamarca, Malásia, Hong Kong e Tailândia. Perguntei: Qual é a importância dos movimentos negros no Brasil? Mariana considera de extrema importância os movimentos negros não só no Brasil, mas também mundo afora. Pra ela, e também pra mim, “somos todos iguais, independentemente de cor, condição social e crença”. À propósito, esse entendimento natural consta da nossa Constituição (1988), especialmente no art. 5º: Assis e Maju Coutinho Pág.1

Edição 1.385 página 5 Especial Consciência Negra Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade… No próximo domingo (20/11), Dia da Consciência Negra, Mariana Aldano e duas colegas suas, Denise Thomaz Bastos e Gabriela Dias, vão apresentar um programa especial na TV Globo, logo depois do Fantástico: Sons de São Paulo. Esse programa tratará do que se refere o título, ou seja, da presença dos negros nos mais diversos cantos da Capital paulista. Sobre a música de São Paulo, leia: SÃO PAULO EM VERSO, PROSA E MÚSICA, que publiquei no dia 24 de janeiro de 2022 como especial do Jornalistas&Cia. Ao ator Davi de Almeida, outrora repórter cinematográfico da TV Globo e de outras tevês em São Paulo, perguntei se em algum momento de sua vida fora de algum modo discriminado, na Redação ou fora da Redação. Depois de dizer que nunca foi discriminado, que nunca o viram com preconceito, disse: “Na vida há espaço para todos. O universo está aí à disposição pra realizar tudo o queremos ser. Feliz com o reconhecimento e as conquistas dos negros, que cada vez mais estamos ocupando espaços em todos os setores, inclusive no audiovisual. Somos todos iguais nessa vida de meu Deus e perante a Constituição”. Trabalhei com Davi na Globo e dele guardo belíssimas imagens. Como ator, Davi de Almeida brilha nas séries PSI (2014), Beleza S/A (2013), Pico da Neblina (2019), Hebe (2019) e nos filmes VIPs (2010) e Carcereiros (2019). Jorge Araújo é baiano como Davi de Almeida. Disse que nunca sofreu discriminação nenhuma entre colegas. Como baiano, aqui e acolá, foi visto por olhares preconceituosos e discriminadores. “Mas isso faz parte da vida”, diz ele. Trabalhei com Jorge, na Folha. Século passado. Jorge Araújo é repórter fotográfico dos melhores do Brasil e do mundo. Tem quase 50 prêmios, nacionais e estrangeiros, ganhados no decorrer da vida profissional. É dele a famosa foto da Pomba da Anistia. E diz, a mim: “Trabalhei durante 40 anos na redação da Folha de S.Paulo. Eu contei nos dedos de uma mão quantos profissionais de cor negra trabalharam ao meu lado e em cargos de chefia. Dados do Perfil Racial da Imprensa Brasileira mostram que a maioria da categoria (77,1%) é branca, segundo dados do IBGE. Em 40 anos na editoria de Fotografia da Folha, somente dois negros trabalharam ao meu lado. Eu, como pardo declarado em minha carteira de identidade, nunca sofri nenhum preconceito pela minha cor. Num país com 56% de negros (IBGE), o Nordeste é o que mais emprega jornalistas negros, com 39%. Norte, 25%, Oeste, 21%, e Sul, apenas 5%. Na Semana da Consciência Negra é muito triste ver as pesquisas do IBGE. Precisamos caminhar mais 100 anos para equipararmos esta tragédia profissional”. Na Folha trabalhei também com o craque Ubirajara Júnior, repórter policial. E nas horas vagas, contista. Na Folha trabalhei também com o fotógrafo pernambucano Manuel Isidoro, que se vangloriava de ser impoluto perante as mulheres. Era um cara cheio de graça, que já está no céu. Jornalistas negros fizeram história, inclusive na Paraíba. O primeiro presidente negro do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, Sindjorp, foi João Bosco Gaspar Mariana Aldano Davi de Almeida com a atriz Brenda Lígia Miguel Novembro é o mês da Consciência Negra e para a Intel, como uma empresa que tem como sua missão promover e levar maior diversidade e inclusão dentro e em todo o ecossistema que impacta, sabemos da importância do tema. É preciso colocar diversidade racial como uma pauta recorrente, não apenas em um mês. Por isso, vamos juntos construir o futuro inclusivo que precisamos? Mais do que querer, é o certo a se fazer. Copyright © 2022 Intel Corporation. Intel e o logotipo Intel são marcas comerciais da Intel Corporation nos Estados Unidos e em outros paises. *Outros nomes e marcas podem ser considerados como de propriedade de terceiros. Pág.1

Edição 1.385 página 6 Especial Consciência Negra (1947-2018). Trabalhei com ele, no tempo em que ele era editor geral do jornal Correio da Paraíba, hoje portal na internet, e eu editor de Local. Local era o nome que se dava, na Paraíba, à editoria que reunia notícias da cidade. No caso, especificamente, João Pessoa. João Bosco foi uma figura muito conhecida e polêmica. Figura conhecida e também polêmica foi o paraibano de Santa Rita Severino Ramos Pedro da Silva, por todos chamado de Biu Ramos. Também trabalhei com ele. Biu Ramos (1938-2018) iniciou a carreira de jornalista como datilógrafo do promotor público Ivaldo Falconi, editorialista do jornal Correio da Paraíba. E foi então que ele, a partir daí, foi contratado como redator do jornal. E aí tudo ficou mais fácil. Biu Ramos escrevia muito bem, mas era um chefe ranheta. Detestava burrice. Uma de suas frases mais conhecidas é esta: “[...] A vida roda, até a consumação dos séculos, para sempre, sem fim, amém [...]”. O jornalista Biu Ramos não conheceu o poeta Augusto dos Anjos, mas conheceu e entrevistou o romancista paraibano, autor de Menino de Engenho e Fogo Morto, Zé Lins do Rego. O texto memorial que Biu faz sobre Zé Lins é memorável. Começa assim: “Lembro-me como se fosse hoje. Foi aí por volta de 1952 (eu tinha exatamente 14 anos). Era o governo de José Américo, eu havia lido em A União que o grande romancista de Pilar encontrava-se na Paraíba em visita ao seu amigo governador, de quem participara da campanha que o elegeu em 1950. Passava pouco das nove horas da manhã, eu sentado num banco em frente à igreja, quando vi parar um jipe na porta da casa-grande e dele saltar aquele corpanzil imenso, sólido e ágil, os óculos inseparáveis, a roupa de linho branco, o paletó aberto, sem gravata, tão à vontade como se estivesse entrando na casa-grande do seu avô. Nunca o tinha visto de corpo inteiro, conhecia apenas a sua cara redonda com aquele começo de sorriso, no célebre bico de pena de Luiz Jardim. Mas não tive dúvida: ‘Zé Lins’, disse comigo. ‘Meu Deus, é Zé Lins do Rego que está chegando ali, trazido por Dr. Odilon’. Senti uma emoção forte e sincera. Tanto falava dele em Jorge Araújo minhas conversas com Seu Rodolfo que toda a minha mente já estava tomada de sua narrativa sem floreios, de seus personagens familiares e de sua linguagem peculiar, que eu o considerava um desses seres distantes, inalcançáveis, que só existiam em nossa imaginação. Dois dias antes eu tinha lido um de seus artigos em A União, reproduzido de outono, no qual ele falava de coisas da Paraíba, citava José Américo. Como podia um escritor daquela dimensão, que escrevia em O Globo, que já publicara tantos livros, estar ali, à meia distância de mim? Eu me refiz do susto − e foi um susto − e decidi que iria abordá-lo, iria conversar com ele, aquele seria o meu dia de glória e da minha definitiva consagração, que haveria de ficar eternamente gravado na minha memória. E ficou. [...]” (Do livro Memórias de Um Repórter, A União; 1994) O santarritense Biu deixou sete ou oito livros publicados. A maior parte da população brasileira é formada por pretos e pardos. Em 1872, o Brasil tinha uma população estimada em algo em torno de 10 milhões de pessoas. Mais ou menos 15% dessa população era constituída de negros escravizados. Tem sido comum, mas não dá para nos habituarmos com frases do tipo “negro, quando não faz na entrada, faz na saída”. Pedi ao jornalista pernambucano Flávio Tiné, pardo, um pequeno depoimento a respeito de frases desse tipo, questões desse tipo. E ele: “Como todo pretenso escritor, me surpreendia às vezes construindo frases de caráter racista. A revisora imediatamente chamava a minha atenção para o deslize, sabedora de que não se tratava de convicção, mas de um texto mal articulado, que não levou em conta a natural convivência de pessoas de cor diferente. Tinha em minha própria casa algumas pessoas de cor preta, Flávio Tiné no Instituto Memória Brasil pfizer.com.br Por mais equidade no mundo. Grandes avanços que mudamas vidas dos pacientes . Pfizer: há 70 anos trabalhando por grandes avanços que mudamas vidas dos brasileiros. PP-UNP-BRA-1020 A Pfizer valoriza a diversidade e acredita que todas as pessoas merecem ser vistas, ouvidas e cuidadas, independentemente da sua cor, idade, religião ou orientação sexual. 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Pág.1

Edição 1.385 página 7 Especial Consciência Negra encarregadas das tarefas domésticas. Eram tratadas como pessoas da família, que comiam a mesma comida e participavam de festas ou comemorações com a maior intimidade. Apesar dessa comprovada experiência, algumas vezes me surpreendi chamando de coisa de preto algum procedimento pouco civilizado, como jogar papel na rua ou buzinar na frente de um hospital. Mais recentemente, tem sido comum certas pessoas se recusarem a entrar num elevador onde se encontra uma pessoa de cor preta ou má vestida. Casos do gênero aparecem diariamente nos noticiários de televisão, fartamente ilustrados com imagens. Já passou da hora de superarmos tais desencontros. Tenho certeza, ou pelo menos esperança, de que alcançaremos em breve a igualdade de tratamento entre pessoas diferentes de gênero, cor ou qualquer outra forma de identificação.” No jornal, revista, Rádio e TV é visível a atuação de redatores e repórteres. Carlos Silvio é um profissional do rádio e a ele pedi um pequeno depoimento: “’Racismo, preconceito e discriminação em geral/É uma burrice coletiva sem explicação’, diz um trecho da letra da música Racismo É Burrice, de Gabriel, O Pensador. Pois bem, o racismo existe. O racismo sempre existiu. O racismo sempre, infelizmente, existirá. O debate racial nunca esteve tão em alta na sociedade brasileira. As políticas de ações afirmativas, idem. Eu, como radialista e apresentador do programa Paiaiá na Conectados, há mais de seis anos, na Rádio Conectados, nunca sofri racismo. Mas já entrevistei gente que sofreu, como o locutor esportivo baiano Sílvio Mendes. ‘O início foi muito difícil no rádio, por eu ser negro’, afirma Mendes. Os movimentos negros, que poderiam contribuir mais para o debate, parecem adotar uma narrativa político/ partidária, em que se um negro não é da mesma linha ideológica, é excluído, deixado de lado. Eu, como índio/negro, o fato de não ter sofrido racismo, não significa que não luto para o fim deste mal. No entanto, acredito que a melhor forma é o direito à igualdade, sem qualquer tipo de porcentagem em qualquer espaço. O rádio me deu esta possibilidade de me comunicar, sem me sentir inferior ou superior. Nossa consciência é única e deve ser sempre mais humana.” Pessoalmente e pardo que sou no corpo e documentos, considero necessária a iniciativa de proclamar o direito de cotas pra negros, negras e indígenas neste país tão imenso e tão desigual. Perguntei ao jornalista, ator e autor musical Oswaldo Faustino o que acha disso. E ele: “As cotas/reparações raciais que incomodam tantas as pessoas são mais que necessárias por conta dos 350 anos de escravidão em que a população descendente de africanos, através de leis, foi proibida de se beneficiar de vários setores da sociedade, dentre eles a educação, a posse de terras, entre outros. No caso das universidades, eu vejo as cotas mais do que beneficiando os cotistas, beneficiando a própria instituição, uma vez que abre estudos de temas que jamais seriam abordados e que com a presença negra dão à universidade a possibilidade de se tornar universal.” Embalado pela resposta que ouvi, fiz com ele a seguinte entrevista, na base do pingue-pongue: Assis Ângelo: O Brasil é negro. Que importância tem o Brasil para o negro? Oswaldo Faustino: A importância do Brasil para o negro é a mesma do negro para o Brasil. Nossos antepassados foram Carlos Silvio Oswaldo Faustino e Assis Ângelo Pág.1

Edição 1.385 página 8 Especial Consciência Negra trazidos à força para cá. Sequestrados em sua terra, sem saber o que estava acontecendo, sob violência, sem conhecer a língua, nem entender as ordens que lhes eram dadas. Os mais de 350 anos de escravidão ensinaram meus ancestrais a enfrentar todas as intempéries da vida, pelos séculos que se seguiram. Assim como ajudamos a forjar o Brasil, construindo-o e nos construindo, o Brasil nos fez um povo essencial para transformá-lo na grande Nação que ele é. Assis: Muitas profissões aconteceram e acontecerão durante todo o tempo. O jornalismo é uma profissão. Por que você escolheu essa profissão? Oswaldo: Não escolhi o jornalismo. O jornalismo me escolheu. Eu, desde menino sonhei em ser ator. Passei minha infância nos porões da Pinacoteca do Estado, onde funcionava a Escola de Arte Dramática de São Paulo, criada por Alfredo Mesquita, onde minha mãe trabalhava, na cozinha, preparando e servindo a tradicional sopa para os alunos. Na hora do vestibular, porém, tentei me lembrar de quantos negros e negras eu vi se formarem na EAD, ao longo dos anos todos em que lá estivemos. O número não passava de três. Então me entreguei ao meu segundo amor, já que o primeiro me parecia inalcançável. O segundo era a palavra. A palavra para mim é sinônimo de ar, eu a respiro. Hoje vivo dela e me fiz amante da arte da informação. Assis: O negro, com toda importância que tem para o Brasil, continua discriminado. O jornalismo mexe nesta questão, no sentido positivo? Oswaldo: Sem dúvida. Conhecimento é poder. Informar é transmitir conhecimento. E, sempre que possível, e algumas vezes até enfrentando o impossível, eu aproveito da minha profissão para transmitir algum conhecimento que ajude as pessoas a se empoderarem. Assis: Você é um jornalista de grande importância para o Brasil. Que importância dá para o jornalismo dito “negro”? Oswaldo: Meu jornalismo é negro, porque eu sou negro. Mesmo que eu não esteja atuando na chamada “imprensa negra”, meu olhar sempre será negro. E as informações que transmito são fruto desse olhar. Historicamente há uma imprensa, desde os tempos da escravidão, que teve esse olhar, então chamado “Abolicionista”, mas que ia para muito além do abolicionismo. Houve uma importante rede de trocas de informação no século XIX. Mesmo que hoje sejamos tão poucos nas redações, continuamos essa tradição de compartilhar o que sabemos e nos mantemos abertos ao que os demais compartilham. Assis: Existe jornalismo branco e negro? Oswaldo: O jornalismo hegemônico é branco. Basta ver as prioridades na escolha do que será noticiado. Um desentendimento na família real britânica, ou uma cadelinha perdida em qualquer país europeu, derruba a pauta dos resultados das eleições presidenciais em qualquer país africano. Um Prêmio Nobel a um africano ou africana só será notícia se houver um buraco na página da editoria internacional. E já houve 22 ganhadores do Prêmio Nobel naquele continente: quatro de Literatura, três de Medicina, 13 da Paz e dois de Química. Quem já leu sobre isso? Sempre que possível, a imprensa branca alimenta o imaginário das massas com conceitos mentirosos que nos inferiorizam e até nós mesmos acabamos acreditando nessa inferioridade. O normal é ser branco, e os demais são no máximo “toleráveis”. Assis: Gilberto Freyre, sabemos, disse muita idiotice a respeito do negro no Brasil. Ele também foi jornalista. Que importância você vê no que ele escreveu sobre a história do negro? Oswaldo: O melhor da produção de Gilberto Freyre é estimular nossos estudiosos a pesquisarem, com afinco, para contradizê-lo. Por outro lado, Casa Grande e Senzala, nos ajuda muito bem a entender a branquitude. Confesso que não conheço a produção jornalística dele. Assis: Enumere dez jornalistas negros, no Brasil, de todos os tempos. Oswaldo: O primeiro é Luiz Gonzaga Pinto da Gama, o Luiz Gama. Da mesma época, José Ferreira de Menezes e José Carlos do Patrocínio. Depois destacaria Afonso Henriques de Lima Barreto. Gosto também de ler as crônicas jornalísticas de João do Rio, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto. Mais para cá, o campineiro Lino Guedes, que criou os jornais O Getulino e O Progresso, Jaime Aguiar e Abdias do Nascimento. Nos anos 1960, Odacir de Mattos, em especial por sua famosa reportagem com Narciso Kalili, para a revista Realidade: Existe Preconceito de Cor no Brasil, de 1967. Ele foi o editor Pág.1

Edição 1.385 página 9 Especial Consciência Negra do Jornegro, um importante jornal do Movimento Negro. Dos nossos contemporâneos, amo Oswaldo de Camargo, apesar de ele ter atuado muito mais na revisão, mas seus escritos e estudos jornalísticos são impecáveis. E todos os meus parceiros e minhas parceiras da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, com destaque para meu irmãozinho Flávio Carrança. Porém, tem muita gente boa fazendo jornalismo negro, no rádio, na TV – veja Maju Coutinho, Heraldo Pereira, Joyce Ribeiro –, como também na revista Raça Brasil e nos jornais Alma Negra e O Empoderado. Assis: Eu sabia, Oswaldo, que você ia me dizer, que Luiz Gama foi o mais forte jornalista negro no Brasil. Por quê? Oswaldo: A começar pela história de ele não ter podido estar em escola formal, por ter sido escravizado por oito anos. Foi alfabetizado aos 17, por um jovem estudante da escola de Direito do Largo São Francisco. Pouco tempo depois escreveu nos mais importantes jornais da província de São Paulo, e criou três jornais com o Angelo Agostini: O Diabo Coxo, o Cabrião e o Polichinelo. Árduo defensor da abolição, da República e da liberdade. Só se fala de sua carreira de advogado, mas foi também um grande jornalista. A cada dia se descobrem novos escritos dele. Um pesquisador levantou mais de 800. Não por acaso eu escrevi um romance juvenil intitulado A Luz de Luiz – Por uma terra sem reis e sem escravos. Assis: No jornalismo eu cresci sem jornalistas negros ao meu redor. Isso continua. Por quê? Oswaldo: Esta resposta já foi dada. Esse número continua ínfimo porque a imprensa hegemônica é branca. Mas não seja injusto, no final dos anos 1970 e início dos 80, você trabalhou na reportagem policial da Agência Folhas, ao lado de um grande jornalista negro chamado Oswaldo Faustino, que mais tarde seria editor de Cultura no Diário Popular… grande e modesto (risos). Assis: Seu melhor momento como repórter... Oswaldo: Vou destacar uma matéria para a revista Raça Brasil. O editor me pediu para entrevistar por telefone para uma matéria de capa o Ed Motta. Mandou um fotógrafo, do Rio, fotografá-lo. A assessora disse que ele só tinha uma hora para a revista, somando o tempo com o fotógrafo e com o entrevistador, e as fotografias demoraram 45 minutos. Eu só teria 15. O editor até passou mal e eu ri. Começou a entrevista e, em determinado momento eu disse: “Ed, sua assessora disse que só tenho 15 minutos para te entrevistar. Já conversamos uma hora e meia. Você quer parar?”. E ele respondeu: “De jeito nenhum, esta entrevista está ótima. Vamos continuar!”. Me senti realizado. Assis: Você sofreu alguma discriminação na sua vida profissional? Oswaldo: Quanto tempo você tem para ouvir todas? (risos) João do Rio Abdias do Nascimento Oswaldo de Camargo Odia 20 de novembro foi escolhido como o Dia da Consciência Negra em 2011, quando Dilma Rousseff era presiden- te da República. O texto aprovado pelo Congresso foi: LEI Nº 12.519, DE 10 DE NOVEMBRO DE 2011 Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É instituído o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia 20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 10 de novembro de 2011; 190º da Independência e 123º da República. DILMA ROUSSEFF Mário Lisbôa Theodoro A dívida que o Brasil tem com os negros e negras é impagável. LEIAMAIS: IMPRENSANEGRA, RESISTENTE EHEROICA: PARTE I • IMPRENSANEGRA, RESISTENTE EHEROICA: PARTE II • IMPRENSANEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE III • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE IV • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE V • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VI • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VII • IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VIII (FINAL) Oswaldo de Camargo Pág.1

Edição 1.385 página 10 Últimas n Começou na semana passada e vai até 24/11 o segundo turno de votação para o Prêmio +Admirados da Imprensa de Tecnologia. Com patrocínio de Hotmart e iFood, além do apoio de divulgação da Press Manager e do Portal dos Jornalistas, a premiação vai eleger os jornalistas TOP 25 +Admirados, além de Colunista, e veículos nas seguintes categorias: Agência de Notícias, Canal Digital, Newsletter Especializada, Podcast, Site, Veículo Especializado emConsumo (B2C), Veículo Especializado em Negócios (B2B) e Veículo Geral. u Dos jornalistas indicados no primeiro turno, 67 passarampara o segundo turno, representando 38 veículos. São 48 homens e 19 mulheres. Os veículos finalistas são 94, dentro das oito categorias. Os que receberam mais indicações foram CanalTech, Techmundo, TechTudo, Tecnoblog e Tilt (UOL). Confira todos os finalistas. uPara votar basta preencher um cadastro simples e curto (ou fazer login caso já tenha participado de outras votações) e indicar a colocação dos finalistas emcada categoria. Importante ressaltar que não é necessário indicar em todas as categorias nem ter todas as indicações para cada uma delas. Todos os votos, ainda que parciais, serão computados. n A agência de jornalismo ambiental brasileira Amazônia Real é uma das 15 finalistas do Prêmio de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras. Fundada e dirigida por Elaíze Farias e Kátia Brasil, a agência concorre na categoria Impacto, junto com projetos de Ucrânia, Índia, Mali e Grécia. Os vencedores nas três categorias – Impacto, Coragem e Independência – serão conhecidos no dia 12 de dezembro em uma cerimônia em Paris. u O Prêmio de Impacto é concedido a jornalistas, meios de comunicação ou ONGs cujo trabalho tenha levado a melhorias na liberdade, independência e pluralismo jornalísticos. Confira a lista completa dos finalistas em MediaTalks by J&Cia. n Carlos Alberto Sardenberg, comentarista de política e economia no Jornal da Globo e na GloboNews, deixou a emissora apósmais de 20 anos de trabalho. Ele segue, porém, na rádioCBNe no jornal O Globo, que também pertencem ao Grupo Globo. u Sardenberg explicou o motivo da saída: “É aposentadoria parcial. Motivo: meus 76 anos, 53 de carreira, a necessidade de reduzir o ritmo de trabalho. Passei a maior parte de minha carreira, na escrita e na eletrônica, trabalhando à noite. Isso acumula um cansaço”. Ele afirmou que pretende escrever dois livros, um sobre luto e perdas, e outro sobre memórias dos anos 68, além de “viajar mais, ler mais e, sobretudo, curtir as duas netas e os três netos”. u Em comunicado interno, Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo da Globo, elogiou o trabalho de “Sarda”, como o jornalista é conhecido por colegas: “Um ser humano extraordinário. Pronto para ajudar e compartilhar suas experiências de vida, dentro e fora das redações. Deixou nossas noites e madrugadas mais leves. E, generoso, continuará a compartilhar conosco o melhor do jornalismo em O Globo e na CBN”. u Sardenberg chegou à Globo em 1998, atuando pela GloboNews. Estreou como repórter das edições diárias de Em Cima da Hora e Jornal das 10. Entrevistou diversas personalidades do mercado financeiro. A estreia na TV aberta foi em2006. Três anos mais tarde, aceitou uma proposta de tripla ancoragem no J10, com André Trigueiro, no Rio, e Carlos Monforte, em Brasília. Teve atuação direta na formação do GloboNews Em Pauta, jornal que surgiu em 2010. Entre suas coberturas históricas estão a crisemundial nomercado imobiliário, em2008, e os impactos da pandemia da Covid-19 na saúde financeira do Brasil. Carlos Alberto Sardenberg deixa a TV Globo Carlos Alberto Sardenberg Amazônia Real é finalista do Prêmio de Liberdade de Imprensa da RSF Elaíze e Kátia +Admirados da Imprensa de Tecnologia Segundo turno vai até 24/11 Pág.1

Edição 1.385 página 11 n Durante as manifestações do 15 de novembro – contra o resultado das eleições e a favor de um golpe militar –, jornalistas foram intimidados por manifestantes, como denunciou Marcelo Auler em seu blog. u Nessa terça-feira, em frente ao Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste, no centro do Rio, Auler entrevistou um militar da reserva. Depois disso, um grupo tentou forçá-lo a apagar a gravação. Diante da recusa, um integrante mais radical aplicou-lhe uma gravata, ou um golpe de sufocamento, mas nem assim foi atendido. u Auler propôs, então, que a polícia intermediasse a questão. O sargento PM que atendeu à contenda concluiu que uns tinham a liberdade de se manifestar e o jornalista, de trabalhar, e não pediu que apagasse a entrevista. u As ameaças repetiram-se em Brasília, por manifestantes no Setor Militar: uma equipe da rádio Jovem Pan precisou de escolta da PM para deixar o local. Em Belém do Pará, conforme denúncia do sindicato do Estado, os ataques ocorreram contra profissionais do jornal O Liberal. u Na véspera (14/11), no Paraná, Isaac Risco, correspondente espanhol da agência de notícias alemã Deutsche Presse Agentur, foi obrigado a apagar uma entrevista com manifestante, conforme narra em vídeo, em que diz: “O Brasil ficou perigoso para se fazer jornalismo”. Marcelo Auler denuncia ameaças a jornalistas n O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, coordenador da transição de governo, anunciou nesta quarta-feira (16/11) a composição do subgrupo da Comunicação Social. Entre outros, estão Octavio Costa, presidente da ABI; Laurindo Lalo Leal Filho, conselheiro da ABI; Teresa Cruvinel, ex-presidente da EBC; Florestan Fernandes Junior, ex-TV Brasil; Helena Chagas, ex-ministra da Secretaria de Comunicação (esses três, colaboradores do Brasil247); e HélioDoyle, professor aposentado da UnB. A primeira reunião foi realizada na manhã do mesmo dia, de forma híbrida. n Três notas que oDrive, newsletter do Poder360, publicou emsua primeira edição desta quarta-feira (16/11), apontamproblemas sérios na CNN Brasil. Elas estão transcritas na íntegra, a seguir: Demissões em dezembro A emissora de TV a cabo de Rubens Menin (dono da empreiteira MRV e do Banco Inter) foi lançada com 600 funcionários. Hoje, tem 800.Onúmeroserádrasticamente reduzido antes do fim deste ano. Sempre no vermelho A CNN Brasil foi lançada em 15 de março de 2020. Nunca deu lucro. Menin queima milhões de reais por ano para sustentar a operação. Fatura apenas R$ 150 milhões anuais. CEO dispensada A jornalista Renata Afonso está em férias. Não deve retornar mais. Entrou para a emissora em abril de 2021. Seu salário mensal é de R$ 650 mil. Isaac Risco Poder360 vê crise na CNN Brasil Definido subgrupo de Comunicação na equipe de transição conitnuação - Últimas n Magda Almeida morreu no sábado (12/11), em Porto Alegre (RS), aos 81 anos, de um câncer do qual se tratava desde março deste ano. O corpo foi cremado no dia seguinte (13/11). u Carioca, era formada em Jornalismo pela UFRJ e em História pela Gama Filho. Fez estágio, com bolsa, em The New York Times, fez curso de Publishing certificado pela Universidade de Navarra, e de Jornalismo Investigativo em Columbia University. u Foi repórter e editora nos tempos áureos do Jornal do Brasil. Esteve nas sucursais da Folha da Tarde e do Estadão, em São Paulo. EmODia, no Rio, foi a primeira ombudsman mulher – e relatou para o Jornalistas&Cia sua experiência (www.portaldosjornalistas. com.br/classificados). Ali também criou o Instituto Ary Carvalho, braço social do grupo O Dia. u Depois da aposentadoria, foi morar com a filha Fernanda em Porto Alegre. Dali, aceitou o convite para ser colaboradora do Quarentena News (www.facebook.com/QuarentenaNews1). (Ver Memórias da Redação, na pág. 32) O adeus a Magda Almeida Magda Almeida em 2016 n A RedeTV dispensou o apresentador Luís Ernesto Lacombe na sexta-feira (11/11). O jornalista, que apresentava o Agora é com Lacombe, deve ser substituído por Amanda Klein, que passará a comandar um outro programa no mesmo horário. Ele também apresentava o RedeTV News, principal jornal da emissora. u Segundo informações de Ricardo Feltrin, do Splash (UOL), os programas apresentados por Lacombe registravam traço de audiência ou ficavam sempre abaixo de 1 ponto no Ibope. O apresentador chegou à Rede TV em 2020, para comandar o Opinião no Ar, programa que saiu do ar em março deste ano justamente por causa da baixa audiência. Conforme apuração da coluna de Feltrin, Lacombe reclamava constantemente da estrutura da RedeTV, emOsasco, São Paulo. RedeTV dispensa Luís Ernesto Lacombe Luís Ernesto Lacombe Nacionais Pág.1

Edição 1.385 página 12 conitnuação - Nacionais HÁ 10 ANOS APERFEIÇOANDO O MERCADO DE COMUNICAÇÃO VOCÊ TEM QUE ESTAR AQUI! A MAIOR FERRAMENTA DE ENVIO DE RELEASES DO BRASIL! MAIS DE 55 MIL JORNALISTAS NO MAILING DE IMPRENSA! O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO PARA CONTRATAR? n Após três dias de julgamento no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ- -GO), emGoiânia, realizado entre os dias 7 e 9/11, o júri do caso do assassinato do radialista Valério Luiz, morto a tiros em 2012, condenou quatro dos cinco acusados de planejarem e executarem o homicídio. Eles tiveram prisão imediata decretada. u Foram condenados Maurício Sampaio, apontado como mandante do crime, condenado a 16 anos de reclusão; Urbano de Carvalho Malta, acusado de contratar o policial militar Ademá Figueredo para cometer o homicídio, condenado a 14 anos de reclusão; Ademá FigueredoAguiar Filho, apontado como autor dos disparos, condenado a 16 anos de reclusão; e Marcus Vinícius Pereira Xavier, que teria ajudado os outros a planejar o homicídio, condenado a 14 anos de reclusão. u O réu Djalma Gomes da Silva, acusado de ter ajudado no planejamento do assassinato e atrapalhado as investigações, foi absolvido. u O radialista Valério Luiz foi morto a tiros, aos 49 anos, em julho de 2012, quando saía da rádio em que trabalhava. Segundo denúncia feita pelo Ministério Público, o crime foi motivado por críticas do jornalista à diretoria do Atlético Goianiense. Um dos réus, Maurício Sampaio, era vice- -diretor do clube. Atualmente, ele é vice-presidente doConselho de Administração. u Na sexta-feira (11/11), dois dias após ser condenado, Maurício deixou o presídio por meio de um habeas corpus solicitadopelos advogados Ricardo Naves e Thales Jayme, responsáveis por sua defesa. Opedido de soltura estendeu- -se aos réus Ademá Figueredo e Urbano Malta, mas o caso dos dois ainda não foi analisado. u Valério Luiz Filho, assistente de acusação do caso e filho de Valério Luiz, repudiou a saída de Sampaiodopresídio. Segundoele, oMinistério Público acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter a soltura do réu. A promotoria justificou que Sampaio “já se utilizou de diversasmanobras para protelar o seu julgamento e, por consequência, o cumprimento de sua pena” e que a suspensão é necessária para “representar justiça ao corpo social, às vítimas e seus familiares”. Júri condena quatro dos cinco acusados de matar Valério Luiz Valério Luiz n Detentora dos direitos de transmissão da Copa do Catar – tem exclusividade para TV aberta e por assinatura no Brasil e pode, eventualmente, sublocar –, a Globo terá mais de 500 pessoas envolvidas na cobertura, sendo 73 no Catar. Multiplataforma, será acompanhada em TV Globo, SporTV e SporTV 2, Globoplay, GloboNews, G1 e ge (antigo portal Globo Esporte). u Atenta à representatividade, haverá mulheres assumindo funções antes desempenhadas apenas por homens. Ana Thais será a primeira mulher a comentar os jogos da seleçãomasculina em Copas do Mundo na Globo, ao lado de Galvão Bueno – que se despede das Copas nesta função, depois de 42 anos – e outros comentaristas no Catar. A cobertura também terá as primeiras narradoras mulheres em jogos de Copa: Renata Silveira na TV Globo e Natália Lara, no SporTV. u Na chefia geral da equipe está Ricardo Bereicoa e na chefia de reportagem do núcleo Seleção Brasileira – pois o evento tem múltiplos aspectos – está Priscila Carvalho. Contam ainda com os repórteres Débora Gares, Eric Faria, Gabriela Ribeiro, Guilherme Pereira e Kiko Menezes. E os repcines, ou repórteres cinematográficos, Álvaro Sant’Anna, Marcelo Bastos e Ulisses Mendes. u Um estúdio especial foi construído no Rio de Janeiro, para projeções em tempo real de três câmeras instaladas no tradicional mercado Souq Waqif, do Catar. Com 20 horas de operação todos os dias, o estúdio servirá de cenário para os jogos da Globo transmitidos do Brasil, para programas como Central da Copa, Globo Esporte e Esporte Espetacular, da TV Globo, e para o Seleção Catar, do SporTV. No estúdio estarão os narradores Gustavo Villani e Cleber Machado. u SporTV transmitirá todos os 64 jogos do Mundial, inclusive em 4K, com horas antes e depois de todas as partidas, ao vivo 18 horas por dia, das 6h à meia-noite. Narração e comentários por conta de Milton Leite, Lédio Carmona e Paulo Vinícius Coelho. No canal, três programas especiais farão parte da programação da Copa. Logo após as transmissões dos jogos, Felipe Diniz comanda o Troca de Passes, com participação de Bárbara Coelho e Carlos Eduardo Mansur, e entrevistas dos jogadores na saída do campo, na zona mista e na coletiva. Na sequência, André Rizek e Marcelo Barreto apresentam o Seleção Catar, com convidados e entradas de repórteres diretamente de Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio de Janeiro Globo na Copa – O show já começou Renata Silveira Gustavo Villani Pág.1

Edição 1.385 página 13 Doha. Fechando a programação do dia no canal, Magno Navarro e Igor Rodrigues apresentam Tá na Copa, emestilo descontraído. u Na cobertura digital, que se propõe a ser o lugar mais completo da Copa, os torcedores vão acompanhar o que acontece com uma cobertura always on e multiformato em tempo real. Serão notícias, programas, interatividade, tabelas, agenda, cobertura das seleções, lives, vídeos curtos e informação. O portal vai transmitir ao vivo 64 partidas. Vai contar com um time de 11 influenciadores nas redes sociais, trazendo o clima das ruas, desafios aos torcedores, resumo do dia e interação. u O Globoplay terá uma transmissão alternativa por dia, sob o comando de Tiago Leifert. Serão 22 jogos durante a Copa doMundo, com uma linguagem leve, exibidos também no SporTV2 e no portal ge. A transmissão ficará aberta para quemnão é assinante. Globoplay investe ainda na ampliação da área de cobertura do sinal simulcast, que permite assistir à programação ao vivo da TV Globo e de suas afiliadas via streaming como mais uma opção gratuita, de onde estiverem os espectadores. u Além da transmissão alternativa, os assinantes do pacote Globoplay +Mais Canais ao Vivo terão transmissões do SporTV de todos os jogos em 4K e a função de câmeras multiângulo, o que dará ao usuário a possibilidade de escolher, entre seis e oito câmeras, por qual delas quer assistir a lances decisivos e polêmicos das partidas. u Na TV Globo serão mais de 160 horas de cobertura da Copa, transmitindo ao vivo 56 das 64 partidas –; as únicas exceções são os oito jogos simultâneos da última rodada da fase de classificação. A programação da manhã e da tarde abre espaço para os jogos, que ocorrem às 7h, 10h, 13h e 16h, intercalada com outros programas, com narração de Luis Roberto e Caio Ribeiro. À noite, Alex Escobar terá a missão de recontar o que aconteceu no dia, no Central da Copa. No quadro Que Doha É Essa?, o humorista Marcelo Adnet promete mostrar os sentimentos do povo, enquanto Lucas Gutierrez mostra a torcida diretamente do Catar. Felipe Diniz João Miguel Júnior/Globo Tiago Leifert Alex Escobar Estevam Avellar/Globo EM AÇÃO A Rede JP é uma rede de jornalistas negros, indígenas e periféricos do Brasil e do exterior focados em tornar a comunicação social mais diversa e representativa em toda a sua estrutura. Atuamos com os pilares de representatividade, educação e oportunidade. Conheça o nosso banco de talentos e acesse as nossas redes: @RedeJP | Linktree. Construir vínculos e inspirar as pessoas: é para isso que existimos. Esta coluna é de responsabilidade da Jornalistas Pretos – Rede de Jornalistas pela Diversidade na Comunicação (*) Faça parte da nossa rede: [email protected] R E D E Já é possível acessar a programação completa e se inscrever para as versões online ou presencial do evento, que acontecerá em São Paulo. Entre as palestrantes confirmadas está Indianara Campos, repórter da TV Globo. Natural de Itajubá, sul de Minas Gerais, comorigens na cultura afro e indígena, Indianara está há dez anos na área de reportagem e produção, tendo atuado em afiliadas de Rede Globo e Rede Record. Desde 2020 trabalha na Rede Globo de SP, onde atualmente exerce a função de repórter. Saiba como garantir a sua participação: Segundo Encontro Internacional de Jornalistas da Diáspora Africana – JP – Rede de Jornalistas pela Diversidade na Comunicação (redejpcomunicacao.org) Oficina gratuita de podcast Durante o evento deste ano, no dia 20 de novembro, será realizada uma oficina prática com Bruna Sudário sobre o universo do podcast, emque será possível aprender, passo a passo, como criar, produzir, editar e transmitir seu programa nas principais plataformas. Bruna é jornalista, atriz e apresentadora do podcast Minha Transição, sobre histórias demulheres negras que passarampela transição capilar. São apenas 15 vagas disponíveis. Então, corra para se inscrever! Veja a programação completa do Encontro Internacional de Jornalistas promovido pela Rede JP Indianara Campos conitnuação - Nacionais Pág.1

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