Edição 1.381 página 25 Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você temalguma história de redação interessantepara contar mande para [email protected]. n A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto ([email protected]), assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação. Ele diz que este foi feito a quatro mãos, com a esposa, Táta Gago Coutinho. “Explico: a gente conversava, ela foi lembrando os temas e eu correndo atrás, para digitar”. A imprensa na época dos dinossauros Quando terminei de datilografar − isso mesmo, datilografar, numa máquina de escrever Olivetti − um release para a CBPO, Táta Gago Coutinho pediu um motoqueiro por telefone, entregou o texto e ele se mandou voando para Campinas, onde ficava o canteiro de obras da empreiteira e nossa interface, José Arthur. Aprovado o texto com as correções feitas pelo engenheiro, o motoqueiro (que então ainda não era chamado de motoboy) voltou a São Paulo, onde o release foi redatilografado e xerocado em várias cópias. O motoqueiro, que ficara esperando, tomando café, partiu à toda para entregar na redação da Folha, do Estadão e do Diário Popular. Como ele conseguiu terminar a distribuição antes da meia-noite, quando os jornais fechavam, a notícia foi publicada e, satisfeitos, mandamos a conta para a CBPO. O fato é de 1980 e seria corriqueiro, a não ser pelo fato de que, em vez de pagamento, da grana esperada, recebemos uma grande caixa enviada pelo José Arthur com um aparelho esotérico, o fax. Um bilhete explicava que da próxima vez bastaria passar o texto pelo equipamento, sem a correria desenfreada do motoqueiro. E ainda dava uma gozada, perguntando se nós, jornalistas, continuávamos na préhistória da tecnologia. Nossa velocidade pré-histórica já tinha evoluído muito, entretanto, desde que Hypolito José da Costa lançou o Correio Braziliense original, em 1808. Ele o imprimia em Londres e o enviava como contrabando de navio para o Brasil, onde chegava no mínimo um mês depois. Por falar em navio, quando uma Fax Luiz Roberto de Souza Queiroz tromba d´água provocou uma avalanche que quase destruiu Caraguatatuba, no litoral paulista, em 1967, os repórteres tiveram que descer a serra a pé, no meio da lama, alimentando-se de palmito cru cortado na hora e, já com a reportagem, os depoimentos e a descrição do desastre em mãos, perceberam que não havia meios de comunicação para transmitir. Foi um sabichão, acho que do Jornal do Brasil, que alugou uma lancha, abordou um navio parado ao largo porque os portos estavam sem operar, e conseguiu passar a matéria pelo rádio de bordo. Eu fui um dos menos sortudos que ficaram com o grande furo no bolso, que só foi possível entregar na redação quatro dias depois, quando era notícia velha... e que não foi publicada. Mesmo quando a imprensa adotava tecnologia moderna, costumava dar xabu na hora de usar. Foi assim na inauguração de Brasília, em 1960, como já contei em outro texto. O Estadão usou um equipamento de telefoto emprestado para passar as fotos no mesmo dia da inauguração de Brasília para São Paulo, mas a telefonista interurbana (é, era preciso pedir a uma telefonista que fizesse a ligação Brasília/São Paulo) achava que os apitos e zunidos transmitidos pela linha eram um defeito da ligação e interrompia perguntando se preferiam que a ligação fosse refeita, com o que no meio da fotografia saía uma tarja preta, correspondendo à voz dela. Dois anos mais tarde, na Copa do Chile, em 1962, a telefoto quase não pôde ser usada pelo Fábio Salles Telex Telefoto
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