Edição 1.381 página 20 A pandemia de Covid-19 deixou muitas marcas e ausências, inclusive nas redações de diversos veículos de comunicação. Dados da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) estimam 8% de mortes de jornalistas mineiros entre as quase 700mil registradas no Brasil. O cenário pandêmico obrigou mudanças no cotidiano dos periodistas e profissionais da comunicação, comoo afastamento das redações para o trabalho em home office e as medidas de proteção sanitária, como o uso demáscaras e álcool emgel 70%, evitando a disseminação do vírus. As vacinas foram disponibilizadas para a população, somente a partir de janeiro de 2021 e, infelizmente, não alcançaram as demais vítimas da pandemia, deixando saudades e lembranças. Alex Ferreira, diretor do jornal ipatinguense Diário do Aço, lamenta o falecimento do jornalista Nivaldo Resende, em abril de 2021. Ele era responsável pelo caderno de Cultura e Entretenimento e ainda revisava a versão impressa do jornal, que circula há 44 anos. “Ele possuía umvasto conhecimento devido aos muitos anos de trabalho, rigor com o trato da língua portuguesa e um jeito peculiar de lidar com as dificuldades da profissão”, lembra Ferreira. Várias redações tiveram de passar pela complexa situação do luto, substituindo os profissionais falecidos. O diretor conta que a substituição ocorreu apenas nos meses seguintes, pois o profissional deveria ter conhecimento suficiente para revisar e escrever sobre cultura. A fase de isolamento social e o retorno gradativo à redação foramdifíceis, justamente por escancararem os desfalques na equipe e todos terem de lidar com a readaptação, diante de um período tão doloroso. O Sindicato de Jornais do Interior (Sindijori), responsável por atender a demandas de empresas associadas de Minas Gerais, também registrou perdas, como a do ex-presidente AlexandreWagner da Silva. O atual presidente, Rodrigo Fernandes, destaca que a ausência do colega foi impactante no setor e nos vínculos de amizade: ”Alexandre sempre foi um profissional muito sereno e tranquilo. Ele não era de conflitos, pois sempre buscava o enMinas Gerais (*) Impactos pandemia nas redações tendimento, ajudando muito na condução do sindicato, porque ao longo do tempo o Sindicato enfrentou diversas adversidades. Se não fosse o espírito conciliador dele, acho que não teríamos superado”. Embora Alexandre tenha deixado o cargo em 2018, os vínculos deixaram saudade, rememorada por Rodrigo, que assumiu a Presidência a partir do processo eleitoral. A pandemia provocou diversas questões nas redações, abordadas em um livro recém-lançado pelo jornalista mineiro Marcelo Freitas, Nós também estivemos na linha de frente. Ele conta que o interesse em escrever sobre a temática, envolvendo os bastidores da pandemia, foi a constatação que as histórias dos jornalistas são invisíveis: “É relevante saber o que ocorreu nas redações e na rotina de home office durante essa época conturbada”. Marcelonomeia como “amaior operação da imprensa brasileira em toda a sua história”, considerando a atuação na pandemia, ainda que tenha enfrentado vários percalços, como profissionais expostos ao risco de infecção e perda de entes queridos: “O medo foi uma constante entre eles, sendo importante ressaltar também a grande disposição em seguir trabalhando, a despeito do receio de contaminação. Eu procurei encontrar algum jornalista que abandonou a profissão por medo da Covid, durante a pandemia, mas não encontrei nenhum. Acredito que o jornalista percebeu que a atuação dele tinha um significado social muito importante, conforme observei pelas entrevistas”. Emmeio às dificuldades, cada redação segue convivendo com as novas adaptações e cumprindo com a missão de disseminar informações verdadeiras. As ausências estão presentes e os legados continuam vivos nos trabalhos e na singularidade da trajetória diária desses profissionais. Marcelo Freitas e seu livro n O Jornal Noroeste, que até 2020 circulava nos bairros Castelo, Ipanema, Alípio de Melo, Salvador, Glória, Santa Terezinha, Coqueiros e região, em BH, tem projeto para retomar sua trajetória em 2023. O periódico, fundado em 17 de setembro de 2010, deixou de circular quando completaria dez anos, devido a problemas com a crise econômica e a pandemia. O ex-diretor Márcio Luís explica que a pandemia os obrigou a interromper a veiculação. Outra dificuldade encontrada estava na produção de notícias factuais, pois as matérias esportivas, por exemplo, mudavam rapidamente e eles não conseguiam acompanhar. u O veículo ficou bastante conhecido pelas contribuições políticas na região noroeste da cidade. Márcio conta que, embora muitas pessoas da região solicitem o retorno, certos empecilhos, relacionados ao valor de produção do jornal, ainda impedem isso. “Estou esperando as questões políticas melhorarem”, afirma. Jornal Noroeste quer retomar a circulação em 2023 n O jornal Diário de Contagem planeja lançar uma rádio online. Robson Rodrigues, diretor do veículo, informa que um dos objetivos é oferecer para os publicitários e público uma experiência multimidiática: “Além do jornal online, nós temos também a TV online e, agora, teremos a rádio. Amudança propiciará aos patrocinadores divulgarem produtos em diferentes tipos de mídia”. u Ele revela ainda que, apesar de o jornal ser um dos pioneiros no webjornalismo e ter certa relevância em toda a região, sente que falta investimento quando o assunto é a divulgação do veículo: “Pretendemos dar mais ênfase na divulgação no Google e nas redes sociais. O mercado publicitário privilegia as grandes mídias e o poder público não disponibiliza quantias para nos auxiliar”. u Criado para ser um jornal diário, o veículo começou a circular em 30 de agosto de 2005. Diário de Contagem planeja lançar rádio online
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