Jornalistas&Cia 1381

Edição 1.381 página 10 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) “Meu caso com o rádio vem desde antes de eu nascer”. É assim que define a sua relação com o meio o jornalista e escritor Paulo Rogério, autor de sete obras literárias, entre elas a biografia de Fiori Gigliotti, um dos maiores locutores esportivos do rádio brasileiro, em parceria com o também jornalista Mauro Beting. Paulo vemde uma família de radialistas, já que seu pai, Osvaldo, e seu avô, Ary, eramdomeio. Ary Falcone foi locutor esportivo e até teve uma carreira política em Santos (SP). Para ficar mais perto do pai, Osvaldo o acompanhava nas transmissões dos jogos e pegou gosto pela “latinha”. Com Paulo não foi diferente. Ia acompanhar o pai e ficava pela rádio assistindo a tudo. Em uma dessas idas, um pastor que fazia um programa na rádio pediu para o menino de 9 anos ler uma oração. Ele rezou certinho... e acabou contratado para fazer uma participaçãoespecial emum programa para crianças. Com15 anos, Paulo Rogério já era veterano nos microfones, fazendo locução, operando, produzindo e editando. Uma das coisas que ainda mais impressionam Paulo Roberto é a possibilidade de falar nomesmomeio em que ouviu seu pai e seu avô durante sua infância. Mas, por outros caminhos, acabou saindo do rádio, fazendo faculdade e foi trazido ao meio novamente pelo radialista Fábio Luís. Ele, que havia ido trabalhar em rádio pelas mãos de seu Osvaldo, pai de Paulo, agora dava uma oportunidade para o amigo/irmão reingressar na profissão. Infelizmente, alguns anos depois, Fábio teve um infarto fulminante na partida do Corinthians e Olimpia pela Libertadores, no Pacaembu, em 1999. Commuitas histórias vividas, Paulo acabou chegando a outro grande nome do rádio: Fiori Gigliotti. O avô, seu Ary, ouvia Fiori não importava o jogo ou a emissora. Só valia a escuta se fosse o Fiori. “Todo domingomeu avô ficava como radinho escutando a narração de Gigliotti. Depois do falecimento do meu avô, comecei a ter esse hábito. De todo o pessoal da escola, só eu ouvia o Fiori. Os demais escutavam o Osmar Santos ou o José Silvério”, comenta o jornalista. Assim, ele queria escrever sobre futebol, mas não sabia muito bem o quê. Foi então que considerou fazer uma biografia. Mas de quem? Suas dúvidas acabaramquando se recordou de Fiori. Na sequência, pediu ao amigo Ednei Ribeiro para ajudar no contato com a família do narrador. Foi assim que chegou ao filho, Marcelo Gigliotti, que lhe abriu as portas e possibilitou que Paulo organizasse e contasse a história de Fiori. Um dos grandes motivos que o impulsionou foi a boa imagem que tinha do narrador: “Fiori não é controverso. Ele não tem asteriscos na carreira. Ele não tem polêmicas”. De ouvinte a biógrafo de Fiori Gigliotti Paulo Rogério Commuito esforço e entrevistas comamigos, familiares, profissionais domeio e até ouvintes, Paulo Rogério foi construindo a história do narrador. Entre idas e vindas, teve a participação especial do comentarista Mauro Beting, que foi trazido ao projeto pela família de Fiori, e ajudou comdados e abrindo portas para novas pesquisas. Embora atualmente seja possível achar muito material sobre Fiori na web, no início das pesquisas Paulo enfrentou algumas dificuldades, pois não havia tantos conteúdos disponíveis. Por isso, teve de buscar muito material na hemeroteca digital e em arquivos de veículos da época. Omais importante no resultadoé que Paulo confirmou que Fiori Gigliotti era umser humano fantástico, comoo radialista. “Simples, bom pai, bom filho, ótimo marido e um excelente profissional”, assim define o biógrafo. Umdos locais que visitou para a pesquisa foi a cidade de Águas de São Pedro, no interior de São Paulo, onde Fiori tinha uma casa de campo. Segundo Paulo, os moradores da cidade têm adoração por Gigliotti, pois comentam sobre um morador alegre e amigo de todos. Fiori era um apaixonado pelo rádio. Nasceu em Barra Bonita, mas viveu em Lins, onde seus pais eram lavradores. Desde pequeno, ouvia rádio e se encantava com as narrações esportivas. O garoto tanto fez que conseguiu ir trabalhar na emissora local. “Umdia, estava lá, varrendo o chão, e de tanto falar que queria narrar o responsável pela emissora deixou. Foi então que Fiori narrou o primeiro jogo de sua carreira, com gol do jogador Parafuso, em 26 de maio de 1947. De lá ganhou experiencia e foi trabalhar na rádio de Araçatuba. Depois, voltou para Lins e veio para a Rádio Bandeirantes, onde ficou nacionalmente conhecido”, afirma Paulo. “Fiori tinha um modo tranquilo de irradiar, sabendo a hora de subir o tom, quando a bola começava a ganhar o ataque. E contando exatamente o que estava acontecendo. Mas o que me impressiona é o vocabulário: ele nãopreparava nada e tudo acontecia na hora, ele contava o que estava acontecendo. E o vocabulário superava as narrações, o vocabulário do Fiori, para coisas que estavam acontecendo naquele momento. Poucos tinham esse vocabulário”, complementa. Além de Fiori Gigliotti, o locutor da torcida brasileira, Paulo tambémescreveu 2002, de Meninos a Heróis, 100 Anos, Sou mais Briosa (parceria com Álvaro Silveira), 1935, Toda Grande História tem um Grande Começo, 1955, És o Leão do Mar, O Santos e o RJ e Escola Portuguesa, 100 Anos a Formar Gerações. Você pode ler e ouvir esse e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, umblogque teve iníciocomo uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas podem ser ouvidas em formato de podcast no link. Fiori Gigliotti (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

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