Jornalistas&Cia 1378

Edição 1.378 página 59 Inscrições até 30 de setembro Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você temalguma história de redação interessantepara contar mande para [email protected]. Os nossos 20 anos de chumbo (1964-1984) foram temas de inúmeros livros, na década de 1980, no final da ditadura, denunciando o regime militar que causou a prisão e o exílio de centenas de opositores. Uma das melhores obras sobre aqueles tempos sombrios foi escrita pelo jornalista Zuenir Ventura, de 91 anos, nascido na localidade mineira de Além Paraíba, e teve como título 1968: o Ano Que não Terminou. Foi publicado em 1989 e exalta a revolução de costumes que aconteceria, a partir de 1968, em todo o Ocidente. A palavra de ordem, em Paris, bem como no Rio de Janeiro e em São Paulo, era, simplesmente: “É proibido proibir” – propagada aqui pela Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Manifestações estudantis tomaram, primeiro, as ruas de Paris, em maio, contaminando o celebrado Quartier Latin, berço da Sorbonne – mais reverenciada das universidades da Europa. Estendeu-se, em poucos dias, às duas principais metrópoles italianas, Roma e Milão, nas quais os jovens passaram a enfrentar armados a repressão – marcando o estopim da guerrilha urbana no país. Surgiram, assim, as temíveis Brigadas Vermelhas. Movimento semelhante explodiu em várias cidades da Alemanha Ocidental e fortaleceu a formação do grupo terrorista Baader-Meinhof. Também a comunista Praga, capital da Checoslováquia, levantou-se contra a União Soviética, mas sua “Primavera” duraria apenas alguns meses – esmagada pelos tanques enviados de Moscou. A insurreição chegaria à Cidade do México – sede dos Jogos Olímpicos daquele ano. Milhares de estudantes, diante da Catedral da Virgem de Guadalupe, em “El Zócalo”, como é conhecida a Plaza de la Constitución, desafiaram as forças policiais – e muitos foram mortos. n A história desta semana é novamente uma colaboração de Albino Castro (albinocastro@ hotmail.com), ex-SBT, EBC, tevês Gazeta-SP e Cultura, entre outros, que atualmente é titular da coluna Mundos ao Mundo no jornal semanal luso-brasileiro Portugal em Foco. O texto foi originalmente publicado em 22/8/22 na coluna Linha de Passe do site Futebol Interior. 1968 e os meninos da Folha da Tarde O rastilho de pólvora alcançaria o Brasil, apesar do regime militar, e incendiaria o Rio de Janeiro e São Paulo – justamente onde eu me encontrava desde os primeiros dias do mágico e contestador 1968, tentando compatibilizar a vida de estudante com a de repórter da Editoria de Esportes da Folha da Tarde, diário progressista ligado ao Grupo Folhas. O vespertino da Rua Barão de Limeira, no centro de São Paulo, foi um dos símbolos da revolta. Éramos, quase todos, uma mistura de estudantes e aprendizes de jornalista. Buscávamos notícias que pudessem, mesmo no esporte, mostrar a nossa rebeldia. O diário era dirigido pelo baiano Miranda Jordão (19322020), um dos mais respeitados chefes da lendária Última Hora, de Samuel Wainer (1910-1980), com circulação própria no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Mas, depois do golpe de 1964, teve que “vender” seus jornais e Miranda Jordão veio fazer a Folha da Tarde – lançada em 19 de outubro de 1967. Ele acabou por criar, aqui, uma nova versão da Última Hora, igualmente, rebelde e esquerdista, porém sem o nome do matutino de Wainer. “Éramos felizes e sabíamos”, declarou Miranda Jordão no prefácio do livro Os Meninos da Folha da Tarde, publicado em 2011, do qual, com muito orgulho, fui um dos autores. Juntamente com Edgard Soares, Celso Brandão, Miguel Arcanjo Terra, Flávio Adauto, Juarez Soares, Hermínio Naddeo e Ítalo Neves. A obra prometia contar, conforme anunciava na capa, abaixo do título, como aqueles meninos revolucionaram o jornalismo esportivo paulista. A redação da Folha da Tarde, improvisada em meio aos serviços de classificados da Folhona, no primeiro andar, era bastante desajeitada e acanhada. Sem janelas e paredes – somente baias de madeira. Ouviase, ali, quase sempre, o barulho das velozes e então moderníssimas rotativas em off-set instaladas no piso de baixo, no térreo – mesmo local em que ainda hoje a Folha de S.Paulo é impressa. O jornal circulava de segunda a sexta-feira – como era a Albino Castro

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==